sábado, 10 de outubro de 2020

Reflexões Sobre a Lei Aldir Blanc

 


Reflexões Sobre a Lei Aldir Blanc - José Facury

Arte da capa Yuri vasconcellos


Quando lançaram a Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, em sua totalidade, me ficou bem claro o objetivo de cada inciso:

 Inciso I - Aos fazedores culturais e técnicos da área mais necessitados.

 Inciso II - Aos espaços, grupos, rodas e coletivos culturais com CPF, MEI ou CNPJ

 Inciso III - Às produções individuais e/ou coletivas com CPF, MEI ou CNPJ concorrerem com os seus projetos de bens, serviços, aquisição de ativos e premiações, para garantir a continuidade da atividade cultural durante e pós pandemia.

E o Crédito Bancário específico para empresas culturais de grande porte sustentarem seus negócios durante e pós pandemia... Ninguém fala dela!

PERFEITO! FOI ISSO QUE APREENDI E REPASSEI...UMA AÇÃO DA GALÁXIA HUMANISTA.

O que mudou?

A regulamentação, o medo, a covardia de gestores e seus procuradores que se entregaram aos velhos e costumeiros lobbies empresariais da cultura.

A princípio porquê abandonaram a simplicidade da lei e querem colocar aquilo que seria o Crédito Bancário, dentro do Inciso III, que não pertence às grandes empresas, e sim às produções médias...

O gestor dos estados e municípios que não se renderam ao pior, estarão dentro do espírito emergencial.

Os que não, criaram dificuldades para agraciar seus abnegados e afastar os incomodados...


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

SOLIDARIEDADE




SOLIDARIEDADE - por Sylvio Neto

     As conspirações nascem no interior dos homens e transcendem ao mundo externo, dando a humanidade revoluções, que produzem maiores ou menores processos de esperança, liberdade e paz. Fala-se das Conspirações do Universo, verdadeiras coordenadas cartesianas que nos encontram e emanam transformações que apenas a nós servem ou de caráter ainda mais genial transcendem e trazem as transformações que servem a humanidade. A história da humanidade, mistura-se a mística ação de conspiradores supra-humanos que transformaram o pensamento universal, tanto quanto a ação devastadora dos predadores da "boa vontade", aquela mesma citada por Emmanuel Kant e presente nas ações de Jesus Cristo, Maomé, Moisés, Buda, (...). Estes profetas, estiveram acima e além das palavras, foram o verbo e continham sua ação, foram um ponto em encontro com o tempo, foram a conspiração do universo em torno da "vocação alicerçada na especialização e posta a serviço de uma tomada de consciência de nós mesmos e do conhecimento das relações objetivas".Em torno da força criada por cada um dos citados, surgiu uma solidariedade diferente da que conhecemos hoje. Uma solidariedade devastadoramente revolucionária, que a ciência dos homens comuns, talvez neutros, elevou à disputas e consagrou através de dogmas, em religião. A teologia, que guardou, envolveu e rompeu a unidade solidária desta imensa revolução, quer seja pela exigência do "sacrifício do intelecto", quer seja pela absorção capitalista – e das várias e sérias implicações, que esta ação indica – trouxeram ao nosso mundo atual, uma neutralidade, uma percepção diferente das ações de solidariedade.

 

     Conspirações, rebeliões e revoluções contra a boa vontade, flagelaram o mundo, e inventaram um novo olhar que guardou um certo "desencantamento do mundo", e aquelas ações solidárias passaram então a somente enfeitar a alma.

 

     Imantados por uma magnífica atitude magnética, composta por um altruísmo que inventa um novo estilo, presentes na palavra e na ação, Gandhi, Martin Luther King, Bispo Tutu, madre Thereza de Calcutá, (...), foram menos proféticos, menos santos, reais articuladores de uma mobilização humana em torno das ações positivas de boa vontade e de solidariedade de caráter universal. A busca pela desestatização do espetáculo da neutralidade – que se entregou o mundo - foi a grande graça de suas ações. Misturando-se ao próprio conceito de solidariedade buscaram apaziguar a verdade do conflito – muito ao contrário de onde estão hoje, bastante além do conflito, os já aqui citados, pois que estão absorvidos por uma tolerância absolutamente neutra, creditada às imagens, palavras sagradas, rezas e orações.

 

     Uma linha tênue separa solidariedade de assistencialismo mas com a racionalização dos valores da boa vontade, instalou-se a reinvenção da solidariedade no Brasil na pessoa de Betinho, o homem, a carne, o real – nada santo, nada pastor, nada padre e sem mandato político – porém, aquele que uniria a palavra com a ação social (o homem faz). A ciência que há na intelectualização, a dádiva que existe na vocação e a graça que corresponde à boa vontade, internalizadas em um homem que teve a capacidade de fragmentar conflitos humanos trazendo a solidariedade de volta ao dia a dia dos comuns e das ações públicas.

 

Sylvio Neto


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Chiquinhos

 


Chiquinhos - por Isac Machado de Moura



Eu estou MUITÍSSIMO encantado com a carta encíclica FRATELLI TUTTI, do papa Chiquinho. 

Ainda não terminei a leitura. Estou sorvendo devagar cada tópico, como quem ler os evangelhos de/sobre Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, vou sentindo uma tristeza danada, porque a religião de Francisco não pode ser a mesma dos católicos que odeiam, dos padres que pedófilam, da Igreja do sino de seis milhões, em Goiás, dos católicos do cercadinho ou dos manzottis que negociam a fé por concessão de rádio e TV. 

A FRATELLI TUTTI tem sabor de tutti-frutti, tem cheiro mais de coexistência que de tolerância, tem as cores de Júlio Lancellotti pelas ruas de São Paulo. Leio e paro e penso e releio e suspiro. Essa carta encíclica resume a espiritualidade de Jesus, focada no outro, o encontro de um samaritano (um palestino de hoje) com um judeu ferido; o encontro do pastor Kléber Lucas com o babalawo Ivanir dos Santos; o encontro do padre Lancelotti com cada morador em situação de rua de sua comunidade; um grupo de evangélicos com um grupo da Umbanda ou do Candomblé para ajudar na reconstrução de um terreiro destruído. 

A FRATELLI TUTTI seria, se os católicos brasileiros vivessem a religião de Francisco, um pedido de perdão; um religare; um foi mal aí por toda uma história de opressão; um arrependimento das alas que, junto aos evangélicos fundamentalistas, apoiam incondicionalmente esse governo de morte e suas atitudes anti-evangelho, anti-Cristo, anti-Francisco. 

A FRATELLI TUTTI é um abraço planetário na humanidade, o respeito a cada cultura, a cada grupo religioso. É a encíclica de dois Franciscos, o de Assis e o latinoamericano no Vaticano. A FRATELLI TUTTI é um resumo dos evangelhos de Jesus. Gostaria muito que cada católico lesse a FRATELLI TUTTI. Ela é tão clara e tão simples e tão pés no chão, que nem precisa de um dicionário ou de um vaticanista para ser esclarecida, entendida. 

Mas que essa leitura não fosse feita como fazem evangélicos e católicos diante de Coríntios 13, que leem, recitam, mas não praticam, apenas usam como amuleto, da mesma forma equivocada que fazem com alguns salmos, cujas páginas amarelam de tanta exposição. Deixam a Bíblia aberta em um deles, mas não se abrem para ele. Simplesmente usam como se fosse uma carranca do Rio São Francisco ou uma ferradura atrás da porta. 

São dois extremos, na verdade: a FRATELLI TUTTI e o manual segregacionista cheio de ódio dos católicos de bolsonaro. A FRATELLI TUTTI é um texto para todos os católicos, para todos os cristãos, para todos os humanos. É SOBRE A FRATERNIDADE E A AMIZADE SOCIAL. Não é sobre liturgias, é sobre o amor, o cuidado, a espiritualidade do Cristo, o seu carinho irrestrito com todas e todos. 

Que venha sobre nós todos e todas, sobre católicos e evangélicos, sobre toda a espécie humana as bênçãos da FRATELLI TUTTI, e que a partir de nós se estendam para as outras espécies, para as outras formas de vida, para o nosso país em chamas desse fogo dezessete, cujo fósforo primeiro foi riscado por cristãos evangélicos e católicos, que seguem alimentando tais chamas com ações ou omissões. 

FRATELLI TUTTI.

sábado, 3 de outubro de 2020

A CARA. BOTA A CARA

A CARA. BOTA A CARA

Apenas Olhando e Vendo o Que não pode Deixar de Ser Visto

 Por Sylvio Neto

 

“ a violência, em especial contra as populações de baixa renda,

é uma atividade lucrativa em áreas de periferia.

Atende a empresários bem sucedidos, mas inescrupulosos,

atende a políticos vinculados a grupos de extermínio

e dá mercado de trabalho a policiais corruptos”.

Doutor em Sociologia pela USP  o sociólogo José Cláudio Souza Alves

 

Tenório Cavalcanti, ex-deputado federal

que com sua metralhadora, apelidada de Lourdinha,

desafiava a corrupção e os poderosos

que dominavam o município fluminense

de Duque de Caxias.

 

Delineia-se de forma absolutamente exclusiva a forma como se apresentam e se comportam os políticos e autoridades de nossa conurbada e conturbada Baixada Fluminense. Não bastasse serem quase todos egressos de um modus vivendus particularmente produzido por ações assistencialistas e por comportamentos e idoneidade afins com a margem da ética, da moral e do senso injusto com o que diz respeito às normas jurídicas que regem seu comportamento econômico-financeiro e social – que está na maioria dos casos a margem da lei.

Desfilam eles, em sua grande maioria, em belos carros de luxo filmados com o conhecido insulfilm G5. Assim, homens e mulheres públicos excluem-se da paisagem que deveriam fazer e ser parte como agentes e autoridades investidos de um poder público, eximem-se de atender a necessidade do eleitorado em continuar a simpática ação dos beijos e abraços das campanhas eleitorais e, sobretudo de prestar contas de seus mandatos.

Por que um cidadão público esconde-se atrás de vidros negros artificiais? Por que o não a transparência?

A constatação em que se envolve este texto, é um mais do mesmo...

É comum e trivial, poderia ter como tema e música incidental a canção da extinta banda Baixada Super 8, “ De Dentro do Meu Carro Não Vejo Ninguém” .

Quem sabe queiram eles, os políticos, imitar os Pop Stars da Cidade Negra, afinal são eles também da Baixada Fluminense... Se os artistas podem esconder-se atrás dos vidros negros de seus lindos carros e matar a saudade das ruas e dos conhecidos que lhes deram alguma inspiração, podemos também nós políticos, ora bolas!!! Devem dizer eles no fresco do ar condicionado e no escondidinho de sues carros.

Quem sabe no calar opaco dos vidros, possam eles incógnitos analisar melhor o dia a dia, o ir e vir, o vento, o sol, a calmaria e o arder nos olhos das cidades que governam e ou legislam?

- É vai ver é isso...

Vale a pergunta: Zito, que é também egresso do time que compõe a tese do doutor em Sociologia pela USP, o sociólogo José Cláudio Souza Alves, pró-reitor de extensão da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), “Dos Barões ao Extermínio” e que teve uma aceitação invejável em seus dois mandatos a frente do governo do Município de Duque de Caxias, esteve sempre nas ruas, esteve sempre de mangas arregaçadas e calças dobradas quando desgraças naturais ofendiam sua cidade com vendavais, lama, esgotos entupidos, galerias pluviais a regurgitar as águas das chuvas por conta das camas, sofás, travesseiros, colchões e garrafas PET que lhes impedia o livre trânsito até a Baia de Guanabara... Por que Zito desfilava a pé ou em carro aberto e não tinha necessidade de estar incógnito? – O pequeno exército que o acompanhava não me causa espanto. Pode-se ainda hoje, encontrá-lo no Restaurante Mussarela, de bermudas e chinelas, a degustar a deliciosa cachaça Seleta...Pode-se ainda hoje encontrá-lo na feira de tradições nordestinas de Duque de Caxias a deliciar-se de uma lautosa buchada de bode.

Seu homônimo, da Belford Roxo dos idos tempos do pleno desenvolvimento, Joca – O iniciador do processo de emancipação e prefeito transformado em mito (após a morte por assassinato), pela grandeza de suas realizações que até então não havia encontrado similar e que por elas, pode-se sem constrangimento esquecer de que, massa bruta, essência e fôrma fora gerado, também era um homem das ruas, homem de botar a cara.

Os  compositores e artistas ligados ao funk e provenientes das comunidades carentes, em suas letras, ousam usar a frase “Bota a Cara”, a frase define uma ética daqueles que se acostumaram à vida humilde e violenta das favelas e sem vergonha mostram-se por inteiro nas letras de suas músicas e na forma como dançam.

Por que então esconder a cara, aquele que prometeu e se comprometeu através dela fazer de seus atos a transformação necessária para a conquista de bens sociais e humanos para seus eleitores e não eleitores?

 

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

NECESSIDADE DO MILAGRE


NECESSIDADE DO MILAGRE - Sylvio Neto

Quatro décadas/Após a gênese/ Senhora da cosmogonia de meus passos/

Ainda vejo escuro/o palmo/ A frente de meu passo.

 Ainda não consigo/responder a questão/sobre quem sou.

 O que Sartre sabe de mim que eu não sei?/" O homem somente entende a sí

mesmo de maneira prática"/ O pensar-se e sua síntese/ esfarelam-se sob

a textura do real/Quem sou afinal?.


 Tenho certeza que nada parecido com Fillias Fogg/ou Espartacus/Quem

sabe D. Quixote/ a combater moinhos de vento?.

 Saber no todo não sei/ Mas, no particular/Posso transformar um

momento/Posso criar e fazer vento/Posso colorir e trazer alento.

 Transformo a realidade do momento/Naquela letra/ que junta a esta/e

mais outra/comove o outro/por conseguir conter o inefável momento.

 

Eu sou amor/disso sei.

 E que o amor/ não se baseia na verdade/está claro/Quando afirmo/ que quem sou/não sei

 Parece-me por vezes/que posso contar comigo/Está claro/ que por outras/não sou ninguém.

 Falar de mim:/como a rosa no jardim/ou o minuto no tempo/è revelar segredos/pequenos demais.

se fosse eu/o tungstênio a impedir a fissão/ou a pedra de roseta a

permitir a comunicação/Seria adulto/Como precisa um homem de minha idade ser.


 Quem sou afinal?

 Pendo mais para o pai de Clark/que ao de Lex/ Sou muito menos Iris e

Jurema/Que precisava ser/ Estou mais para Prestes/ que para Olga/ Seria Judas Iscariotes e jamais Paulo.

 Marcela ou Saulo?/de A ostra e o Vento/ Nem Alexandre, O Grande/ Nem

Fernão Capelo Gaivota/Nem Bart Simpson/nem qualquer idiota/ do tipo de Bob Esponja.


 Melancólico

 Metido a humilde/Senhor de nós apertados/Que não acredita/em contosde fadas


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

CRISTOFOBIA



CRISTOFOBIA - Por Isac Machado

Eu nunca tinha pensado em tirar meu passaporte, porque nunca tinha pensado em sair do Brasil. Hoje tomei a decisão de tirá-lo. Essa onda de perseguição AOS CRISTÃOS, essa CRISTOFOBIA, no Brasil, está me preocupando muito. Nós fomos vítimas de várias ondas de perseguição ao longo de nossa história em terras brasileiras, mas dessa vez a coisa tá muito mais tensa. Vou relembrar algumas das maiores fases CRISTOFÓBICAS por aqui, até chegar aos nossos dias. Vamos lá:

PRIMEIRA ONDA: Foi aquela logo de chegada. Os missionários católicos bondosos que vieram com os colonizadores foram MUITO perseguidos pelos índios que aqui habitavam. Tadinhos! Teve um padre , inclusive, um mártir, chamado José de Anchieta, que era obrigado a ficar ouvindo poeminhas, assistindo teatrinho feito pelos indígenas para convertê-lo ao INDIANISMO. Os índios aprontaram com os padres. Que dó!

SEGUNDA ONDA: Quando chegaram os africanos escravizados. Foi uma das maiores perseguições contra cristãos no Brasil. Os africanos PROIBIAM que os padres e outros católicos rezassem aos seus santos de devoção. Quebravam imagens dos santos, batiam nos católicos, estupravam católicas em nome de Deus, impediam a realização de missas. Como foram cruéis com os cristãos os africanos escravizados! Eles vendiam bebês de mães católicas! Ai que crueldade! Mas os cristãos resistiram. "Louvado seja!"

TERCEIRA ONDA- Quando chegaram os bondosos missionários protestantes, oriundos dos Estados Unidos, no final dos anos 1800. Lá, com a Guerra da Secessão, os protestantes do Sul, que tanto queriam o fim da escravidão, foram perseguidos por excesso de bondade. Martirizados, vieram para cá, onde ainda havia terras baratas e trabalho escravo. Aqui, de novo, colocaram em prática suas bondades; empobreceram, tadinhos, para combaterem a desigualdade e o trabalho escravo, que jamais usaram. E por isso mesmo foram perseguidos.

QUARTA ONDA: Nos anos 60, 70, 80, sob a ditadura militar, que favorecia as religiões de matriz africana, grandes líderes cristãos, em especial batistas, presbiterianos, assembleianos e uma ala católica foram mantidos fora do governo, esculhambados nos periódicos das religiões não cristãs, torturados. O mártir Nilson do Amaral Fanini, para citar um exemplo, de tão perseguido, foi torturado com um curso na Escola Superior de Guerra e foi obrigado a tirar fotos com diversos generais, inclusive no Maracanã. Pobre Fanini!

QUINTA ONDA / A ATUAL - Quase a pior de todas. Nós andamos nas ruas, com nossas roupas tradicionais, e ouvimos o pessoal de matriz africana nos dizendo coisas terríveis, como: "Tá amarrado!" "Sangue de Xangô tem poder!" Dezenas de templos nossos foram destruídos nos últimos anos, especialmente nas cidades do Rio de Janeiro e em Campos dos Goytacazes. Enquanto reconstruímos nossos templos, nosso sagrado, o pessoal de matriz africana, a religião privilegiada pelo governo, passa e nos provoca, dizendo coisas do tipo: "Bem feito!" "Mais uma casa de Jesus fechada! Saravá!" O tempo todo somos quase que obrigados a assistir os canais de tv do Candomblé e as rádios da Umbanda; eles tocam suas músicas em todos os lugares e com o som alto. Um babalorixá presbiteriano é ministro da justiça; outro, da educação; os conselheiros palacianos do governo são babalorixás batistas; uma yalorixá pentecostal ocupa o ministério dos direitos humanos; o presidente se declara TERRIVELMENTE UMBANDISTA. Rituais são feitos no Palácio do Governo. A bancada candomblélica toma decisões pelo povo. Tem sido assim desde a escravidão dos cristãos no Brasil, mas agora estão exagerando.

Enfim, antes que chegue a SEXTA ONDA e me obriguem a mudar minha fé, vou tirar meu passaporte e me preparar para uma eventual emergência. Já pensou, leitora/leitor, se resolvem nos perseguir, de novo, como fizeram nos 388 anos de escravidão oficial contra os cristãos brancos. Deus me livre! Ainda bem que o presidente denunciou, na ONU, essa onda terrível de CRISTOFOBIA. E não é só isso não. Além de cristão, sou "branco" e hétero. Imagina quantas fobias sofro todos os dias. Tomara que a ONU leve a denúncia a sério. Ui! 

domingo, 20 de setembro de 2020

Escuta

 

Escuta - por Zélder Reis


Salve companheiro, chegou na boa

Pessoa de paz, na escuta que ressoa

Atenção, empatia, a luta continua, não é toa

A vida ainda tem sentido, caminhar na chuva ou na calçada aglomerada

A boca fala do que o coração tá cheio, mas prefiro a boca mascarada

 

Minhas fotos falam de mim, no face sempre sou alegre e descolado

Se eu sumir é por que tô bolado, um aperto no peito nem falo

Se chamam de depressão eu chamo de interditado

Cancela, lacra no ponto final, se for perguntar onde doi?

E se eu não souber responder, será que vai entender? Não faz mal.

 

Um passo, depois do outro, passo. Tô tentando contar

Di novo tô tentando, tentando, tentando, tentando

Tem sempre um gatilho, falta comida, falta emprego

Não tem remédio pra esse desassossego?

Gatilho sempre me empurrando pro escuro, duvido, não creio não durmo

Só alívio no som, bem alto, a tempo todo, bem alto, nem quero, bem alto

Se tá mimimi? bem alto, explode os miolos, bem alto, pula da ponte bem alto.

 

Não tem final feliz, as manas atriz, os manos um triz e você me diz

Porque que tenho que ser feliz? Vida viva amor brincadeira eles se amaram

de qualquer maneira, de qualquer maneira, de qualquer maneira.


Vale o espanto, vale me perguntar...é sua depressão ou sua prevenção?

Digo: não é nóia, não é poesia, um grito de amor não é covardia ou me falta dor ou empatia?

só passando pra te dar um alô, coisa que falta é amor, pra que serve a porra do celular?

Então liga pra alguém se escutar, fica calado dá o ouvido assustado não vira pro lado. Amem.


quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Deixe estar




DEIXE ESTAR - por Sylvio Neto
Imagem de Jeff Christensen


Com o sangue empoçado
E pedaços de carne
Espalhados pelo asfalto
Ou em becos apertados
Pode-se fazer um herói
Que vai brilhar nos jornais
E nos noticiários de TV

Com restos de madeira e pregos
Pode-se transformar
As cotas das colinas
Em Cidade-Estado
Uma Polis
Dona de uma segunda lei
Paralela
Que vai encantar
Os sociólogos
E provocar ações humanitárias
E policiais

Não há chance
Para os desgraçados
L’aissez faire
Deixe estar como está
E tente adivinhar o final

Com a falta de esperança
E um punhado de crianças
Sujas na rua
Envolvidas com o malabarismo
E a venda de frutas no sinal
É fácil conseguir uma cena
De cinema, circo ou comercial 
para a TV

Deixe estar
Que não há chance
Para os desgraçados

Com discursos inflamados
Ou atitudes diplomaticamente discretas
Verbalizadas com o cuidado
Dos diplomados na Sorbone, Yalta
convenientemente
Disfarçadas, protegidas e embelezadas
Por sobretudos Pierre Cardin
E o tempo perfeito, exato
De um relógio Rolex
aprisionado no pulso
Pode-se determinar ações
Anti-terror, de paz, humanitárias
Assinadas com canetas Mont Blanc
E concorrer ao Prêmio Nobel da Paz

É o que se pode ver
É como se pode ver
Deixar estar
Não há chance para os desgraçados

domingo, 13 de setembro de 2020

A fartura no Egito e fome no Hebreu

 


A fartura no Egito e fome no Hebreu - por Zélder Reis

 

Será que o faraó explicando pro Bolsonaro ele entende oque é tempo das vacas magras e vacas gordas? Que na grande colheita guarda-se para o entre safra? Que antes de vender a colheita separa a quantidade para alimentar seu povo? Será que o faraó já sabia oque era segurança alimentar no velho testamento?

Impressionam-me nesse governo tantos cristãos, bispos, pastores e cantores legitimando e avalizando um governo que despreza a vida, os fundamentos da fé que falsamente professa, talvez os fatos revelados do Pastor Everaldo, a Flordelis e o Padre Robson mostrem mais do governo que dos próprios religiosos e religiosas, pois sues pastoreios não iniciaram em 2019. Fica a pergunta É Bolsonaro o inventor de Everaldo ou vice-versa?

Mas voltemos ao Egito a sua exploração do trabalho escravo, Faraó, José, Hebreus, fartura e fome. É preciso identificar oque representa cada personagem histórico e classista, e em 2020 isso é muito difícil, essa compreensão foi suspensa junto com o diálogo.

Na liberdade literária seria o faraó um presidente, colocado no poder pelas oligarquias do agronegócio que foram no seu condomínio exigir em troca do apoio mais terras para desmatar, queimar (seres vivos) desertificar com suas gigantes colheitadeiras? Do acordo com Paulo Guedes e os quatro bancos interessados nos lucros do rentismo e do juro que impedem os bancos públicos de investir na agricultura familiar que alimenta 70% dos brasileiros. Ou será mais fácil comer comida envenenada, enlatada, conservada? Mas o povo come arroz com feijão.

Seria o hebreu nosso povo? Que passou fome e foi comprar arroz no país vizinho, porque secas, estiagem, desequilíbrios do clima é coisa de deus e não da devastação predadora do homem sobre o bem comum em busca de lucro.

Seria José um personagem excluído de nossos tempos? Bom administrador conhece os segredos da terra, cuida da terra e dos que plantam na terra, preserva, colhe produtos saudáveis e doa aos famintos nas pandemias e crises econômicas? Sim esse José tem outro nome chama-se MST ou simplesmente agricultura familiar.   

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

E o silencio Covardia





E o silencio Covardia 

Isac machado e Zélder Reis 





Se a palavra é a Liberdade 

A prosa é a poesia 

O discurso é a canção 

E o silencio Covardia! 



O pão é nosso 

e é de cada dia. 

Quem roubou 

do nosso povo a alegria? 

Maria... Maria... 

a dor, 

a magia... 



tic tic tac o samba 

avenida, beco, favela 

O verso, a rima assombra 

tric trac bum vem me cancela 



Abordagem na viela, 

o políça, 

o menino pobre, preto, 

uma lona preta, 

uma vela... 

uma dor... 



O que eu fiz, senhor? 

Sou menino direito. 

Tu nasceu preto, 

pobre, 

na favela... 

Tric..trac..bum... cancela. 



Escreve com pena: luto 

Revolução marginal, real ou digital 

Na casa, na rua senzala o indulto 

Rascunho de vida ou livro proposital? 



O país vai mal, 

extermínio de juventude, 

auto de resistência, 

excludente de ilicitude, 

aborto de negritude. 

Mude...mude...mude...

terça-feira, 8 de setembro de 2020

O BOM PASTOR DÁ A VIDA DAS OVELHAS




O BOM PASTOR DÁ A VIDA DAS OVELHAS - Texto de Isac Machado, Teólogo e Escritor de Cabo frio/RJ - Imagem Jeff Christensen


Toda fidelidade incondicional tem um preço. No caso da IGREJA BATISTA, DA IGREJA PRESBITERIANA, DA ASSEMBLEIA DE DEUS, DAS NEOPENTECOSTAIS COM TVs e dos pastores pobres que se veem representados nos RICOS, esse preço pode chegar a 1 BILHÃO DE REAIS + ministérios + secretarias + poder. 

Em contrapartida, apenas os milhões de votos de cabresto sacerdotal e a garantia de que cada líder vai desinformar seu rebanho da forma mais mentirosa possível. Esse, pelo menos, 1 BILHÃO, que o governo honesto crentólico vai perdoar dos abutres de Satã precisará ser recuperado com o congelamento e o arrocho nos salários dos SERVIDORES QUE TRABALHAM. 

É fácil entender porque essa crapulada de terno e Bíblia na mão pregam tanto contra as esquerdas, contra as ciências, contra a universidade, contra a Teologia da Libertação e da Missão Integral e outras consideradas comunistas. Quanto menor o cérebro da ovelha, quanto maior a sua miopia, mais espaços para essa gente. São os defensores da família (deles), da tradição (de roubar e de não ser questionado) e da propriedade (construída acharcando os mais empobrecidos e crédulos). 

Recomendo, por segurança, como medida protetiva, que ninguém me apareça aqui dizendo que EU NÃO POSSO JULGAR, que O CASO DELES E DOS ABUTRES DE BATINA, TIPO O PADRE ROBSON E O PADRE MANZOTTI É COM DEUS. Não é. O caso deles é comigo, é com você. Quando silenciamos, nos omitimos e "deixamos com Deus", estamos aplaudindo o que eles fazem, concordando com cada canalha biblioso desses aí e com um monte de outros pastores de Bolsonaro, que estão pertinho de nós, aproveitando as migalhas que caem da mesa desses grandes. 

Olhe para o tamanho do protestantismo/evangelicalismo no Brasil. É notório (mesmo sem pesquisa para citar) que pelo menos 90% da pastorada evangélica brasileira de todas as denominações, inclusive daquelas que não se manifestam sobre o tema, são adoradores de bolsonaro. Se a pesquisa for aqui em Tamoios/Cabo Frio-RJ, acredito num índice bem acima dos 90, bem pertinho de 100. E isso deve ser o retrato do país inteiro. Então não venham me dizer que esses homens não representam os evangélicos. REPRESENTAM SIM. E muito bem. 

Até agora os defensores da FAMÍLIA da BANCADA SATANÉLICA sequer se manifestaram sobre a pastora FLOR, que continua DEPUTANDO, com todas as benesses do cargo. Ainda nem ouvi a palavra CASSAÇÃO ser usada pelos defensores da família. UM BILHÃO. Esse é o preço inicial do silêncio. Para Judas, Jesus custou 30 moedas de prata. Para os JUDAS EVANGÉLICOS de hoje, UM BILHÃO de entrada e o resto a ir combinando. 

Eu já falei que tem pastor da Assembleia de Deus e da Igreja Batista com única formação em Bacharel em Teologia e salário mensal acima de 50 mil reais, com troca de carro anual, casa luxuosa para morar, dinheiro extra para ternos e viagens? Então. Tem. É um grupo pequeno. A maioria ganha infinitamente menos. Mas esses casos existem. Eu já falei que numa cidade aqui do interior do Rio de Janeiro, chamada Macalé (não confundam com Macaé de jeito nenhum), tem uma Igreja Batista com mais de cem anos e que nunca teve um pastor preto, e que na última sucessão pastoral, para não correr o risco de contratar um pastor preto (são muitos e alguns muito bons na cidade), importou um do Baraná? (não confundam com Paraná, por favor). 

Assim são as igrejas e os pastores de bolsonaro: racistas, gananciosos, mercenários, contrários ao conceito de BOM PASTOR de Jesus: "O Bom Pastor DÁ A VIDA PELAS OVELHAS". Na linguagem pastorenta de hoje, a tradução apresentou uma falha: "O BOM PASTOR DÁ A VIDA DAS OVELHAS". E as ovelhas, claro, BÉÉÉÉ. Sejam evangélicas, sejam católicas, o som é sempre o mesmo. Aplaudem os pastores do UM BILHÃO, inclusive em dívidas trabalhistas, e me condenam ao inferno, que me parece até um lugar confortável, na hipótese dessa gente aí ir para o céu.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

SEU SETE, UM DE SETEMBRO




SEU SETE, UM DE SETEMBRO - Sylvio Neto / foto Catraca Livre



Ouviram do plenário, ouvirão das ruas

Que as margens, não são plácidas...


As margens são fronteiras de ferro, barricadas e fogo

E nas ruas as vozes todas – são ácidas

E a verdade anda nua, nua, nua...

Anda?


Ouvirão da mídia ninja, tudo, que é verdade

E da imprensa oficial, o grito, do Ipiranga

O grito que ninguém ouviu e a rede globo pariu


Ouviram, no palácio Guanabara: 


O fora Cabral, o fora Pezão, o fora Witzel?

Ouvirão ainda mais, mesmo com a prisão covarde do Lula

pois as máscaras que deveriam cair são oficiais

e as oficinas da reconstrução: 

São atacadas

Como animais, como animais, como animais...


Ouviremos ainda o verdadeiro grito da liberdade

E seremos poupados de audições escusas – grampos

Feitas pelos anglo-saxões, imperadores do caos...


Ouviram a Dilma, ouviram congressistas, ouviram 

Sambistas e passistas, ouviram reggae e axé music

Ouviram do Ipiranga a Tinguá de Xerém a Beira Mar





Grito do Excluído sem Independência - Zélder Reis - foto eu fiz hoje 

 

Oque liga hoje os Excluídos, Papa Francisco e parte da Sociedade Brasileira?

Ouvi do padre Júlio: Tá ligado? Esse é o altar da partilha, não é politica! Pedem-me: Tem uma cesta básica? Mas sou um padre. E o padre grita: Presidente tem uma cesta básica?...Governador tem uma cesta básica?...

 

Não há amor quando há desigualdade... Não há Justiça quando há fome... Não há independência quando o grito ouvido é dos colonizadores.

 

Então o que nos liga é a fome, essa condição imposta, pela opressão, pelo enfraquecimento e hoje pela tirania de um governo infame. Veja que o povo só passa fome após alguma evolução sócia econômica que imprime um crescimento cultural.

 

A fome não é fenômeno, é uma estratégia de poder. Na denúncia da desigualdade o Papa Francisco fala da fome. Os movimentos sociais como o MST elogiado por Francisco é o que mais doa alimentos, fala da fome. A sociedade civil organizada fala da fome.

 

Parece simplista, mas não é, se a luta contra a fome, contra a desigualdade mobilizar e criar consciência que é necessário uma verdadeira independência feita pelas camadas mais populares, romper com a colonização, com a dependência econômica do grande capital opressor, é uma Revolução.

 

O Brasil tem os operadores desse capital nos bancos, no setor do agronegócio, no setor de energia, no setor de tecnologia e no Judiciário. Exemplo público disso foi a carreata da morte de ontem para apoiar um instrumento de dominação e opressão que foi e é a lava-jato. Hoje saio à porta de casa em balneário e vejo outra carreata da morte com a bandeira Imperial do Brasil, e pergunto: Há coisa mais reacionária e representativa da desigualdade em 2020?


sábado, 5 de setembro de 2020

Espelho, espelho meu.




Espelho, espelho meu. 

texto: Isac Machado 
Imagem: Jeff Christensen


Não basta eu ter comida. É preciso que o outro não tenha, para eu parecer generoso quando compartilho minhas sobras. 

Não basta que eu tenha liberdade. É preciso que o outro não tenha, para que ao lhe permitir qualquer resquício de liberdade, eu seja visto como um sujeito bondoso, um cara legal. 

Não basta eu ser rico. É preciso que o outro seja pobre o bastante para depender de mim a sua sobrevivência. 

Não basta eu acreditar que vou para um céu. É preciso fazer o outro pensar que vai para um inferno, mas que eu posso, generoso que sou, levá-lo comigo para o meu céu, desde que ele siga o meu manual de instruções. 

Não basta eu ser um macho da espécie, livre, independente, com vontades próprias e poder divino de mandatário concedido por um deus também macho. É preciso que a fêmea da espécie não tenha vontades próprias, nem liberdade, nem independência, e que acredite numa exigência divina de um deus macho de que seja submissa, para que eu, macho da espécie, mandatário da raça, seja visto como um MARIDO LEGAL porque não bato nela, não xingo, não humilho; tudo isso desde que ela não me confronte, que abra mão de suas vontades, que jogue fora sua identidade e JAMAIS me negue sexo, e que quando eu me tornar impossibilitado de sexar, ela compreenda e não me cobre nada. 

É por isso que a instituição igreja não prega JUSTIÇA SOCIAL, IGUALDADE, e sim ASSISTENCIALISMO e SUBMISSÃO. 

Com justiça social, eu e o outro temos, eu e o outro somos, eu e o outro podemos, eu e o outro sabemos/conhecemos, ninguém deve nada a ninguém. Assim não há controle, e sim negociação, diálogo, e isso dá trabalho. Assim é impossível ser generoso. O outro precisa depender de mim, de minhas benesses, de minhas fofezas. E eu preciso acreditar que sou um cara muito legal! Eu nem mato quem pensa diferente de mim. 

Eu até tive um ancestral preto e uma ancestrala indígena. Eu até tive um amigo homossexual lá na adolescência. Eu nem digo "bem feito" para cada templo de Candomblé ou Umbanda destruído. Eu nem bato na minha companheira. 

"Espelho, espelho meu, haverá neste planeta alguém mais legal, mais justo, mais fofo, mais cristão, mais generoso que eu?"

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

O vento de amanhã de manhã a soprar a amargura do Poeta

  


O VENTO DE AMANHÃ DE MANHÃ

a soprar a amargura do Poeta - por Sylvio Neto

 

“A noite existia em mim escura e vazia

Tornando teso meu riso

Tenso meu olhar vazio e insone”

O vento de amanha de manhã

 “A noite era- tantas- e apenas uma

Talvez fosse mesmo nenhuma (...)”

 

(O POETA AMARGURADO, BUSCANDO OUTRAR-SE NO NÃO SER POETA)

É com a luxúria poderosa dos imperadores

Que contrario as forças, sinergias gigantes,

Cíclicas e pontuais da natureza

Com a ordem:

- Que jamais se ponha o sol, pois que, o dia jamais será noite

È na noite que me perco poeta, andante, perdido

Vampiro a caçar letras, a soletrar palavras, a suspirar frases...

 

É na noite, em reuniões soturnas que o poder se instala

Ocupando a mente de quem não quer nada de bom para o mundo

É durante a noite que se deleitam eles na cafagestagem dos planos

Na divisão da pizza, na construção da vil sacanagem

 

- Ei, ei...Ei poeta!

(INTERVEM ALGUÉM LÁ DENTRO DE MIM)

-Sem poesia podemos viver, não serve mesmo – ela – para nada

Mas, pêra ahê! Do por do sol não abro mão.

 

- Saiba você voz, pensamento, sei lá o que ou quem

que me invade a hora, que me perturba no calor das minhas ordens

que não sou Raul Seixas e jamais desdigo o que já dissera antes

“ A menos que a palavra empenhada me seja prejudicial” – É como me ensinou Machiavelle...Foi o que matou Menelau

e indo além vos digo: Que mato o poeta para impedir que avance o sahel

político, ardente, conspirador e profano

que invade meu mundo, meu país, meu bairro

 

- Mas, é no início do crepúsculo matutino náutico

que se desprendem os corpos amantes

que se despedem os amores

e em seu turbilhão de cores

a poesia da vida

se atira em mais um dia

que é o poder que temos de viver a vida

 

- Esqueça o mel podre voz

que me aparece em mim

nascida sei lá de que lugar

parida sei lá por qual energia

Que perturba minhas falas, ordens

Que me incita o poeta em descanso

E contra minhas ordens vem conspirar

Arrebata-te de mim, eu ordeno!

Descanse lá com Augusto e com os Anjos:

- Siga na noumenalidade do não ser, sombra vampira

“ que se faça o dia com o poder da luz, que possa o homem, deleitar-se em regozijo

com o crepúsculo matutino do novo eterno dia. E que pereça com a saudade do ocaso

lindo, do sol se esvaindo em saudade a descer quase dormindo...Por detrás dos prédios da cidade, a esconder-se em uma quase verdade atrás dos montes, serras e horizonte...Do dia que foi ontem.

Que suspirem os homens de boa vontade e as mulheres mesmo as feias que ninguém é perfeito, com a beleza, saudosa, que imprime o ocaso...

Que guarde dentro de sí esse momento movimento

...E se contente com a saudade, pois assim vozes de conspiração, como a sua, jamais invadirão qualquer momento...E a vontade de ver novamente a natureza em seu poder pleno, fará o homem endireitar seus passos.

 

- Mas, mas – sem noite, não haverá amanhã...sem amanhã...Morrerá a esperança e com ela a fé...

O que prometer, dizer – a cada criança?

Pense poeta, que há derrota em sua ditadura

Pois que, com o amanhã vem a bonança

Que leva a putrefação do homem vil

O amanhã vem trazendo o dia

Na beleza perfeita da manhã

No descanso preciso da noite

Não há paz na ditadura do dia

 

- Por que levanta-te em protesto

Contra a mordaça que calo minha poesia

Para impor a ditadura do dia

E impedir que as moscas reunidas em volta da lâmpada

Tracem na surdina

O futuro de merda e imperialista

Que afoga e se perde na interminável lista

De males de campanha

Na guerra covarde que em nefasta aliança

Os poderosos calam, queimam, arrebatam e matam

A esperança?

 

- Por que poeta? Porque não se pode querer

Fazer o bem

Com o mal

Não se pode contrariar a esperança de um novo dia

...Não devemos trair a mãe

e a mãe está diluída na natureza

contrariá-la

é impedir a beleza

é pesar a leveza que está contida no sonho

é criar Bellorofonte medonho

a derrotar sem pena Quimera

É adormecer sob os gritos de Pan

É adoecer com vermes que fogem ‘a caixa de Pandora

Vem !!!

Beba um copo

Que assim sua boa inspiração não demora

Que nosso deus querido Dionísio

Lhe acaricia a cara

E o vento da manhã de amanhã de manhã

Lhe lavará o rosto

Poeta amigo.

sábado, 29 de agosto de 2020

REFÉNS DO SER VIL

 



REFÉNS DO SER VIL -  de Sylvio Neto 
Foto acervo Kaxinawá - Ricardo Stuckert

Para que?

Por quem?

Por que? Por que?

Bororó civilizado neném

"Cunhatã, Pavuna, Itaguaí

Magé, Saracuruna, Acari"


Quase todos te amam

Mas ninguém te quer

Por aqui...

Quantos beijos você pode dar?

Quantos beijos você deu

Naquele Yanomami

Antes do jantar?


Estariam Bush e Ariel Sharon

Na Cis-jor-da-ni-a?

Estariam George e Sharon

Na História?

Siox, Cherokee, Iroqui

Tupi, Maia, Asteca, Meri Oriedi

Estariam aqui?

Bororó?

Gil e o discurso de Ministro?

Estariam aqui?

Faluja Xiita, Tupi Guarani

Anchieta, Antonil, Tomé de Souza

E tome Tomé

E tome Men de Sá

“ E por mais de mil léguas de praia

estendidos os corpos foi o que se viu”

Ser vil


Estaria ainda aqui, Men de Sá?

E Sabra e Satila de Sharon?

E a triste história da noite

Dos mil mortos?

Eu vi na televisão

Gilberto dizer de harmonia

No renascer da cultura calada

Do Povo Novo

Junção harmônica

Entre a tradição e a invenção

Como num conto de fadas

Como Domingo no Parque


Tribo, aldeia , taba 

Tribo, aldeia , taba

A-flu-en-te,

Negro, Ji-Pará

Andiroba, xique-xique, jequitibá

Calango, Jesuíta, redução

Aldeiamento, reino de fogo, trovão


Assentamento, refugiado, Hebron

Sem Terra, MST, Funai

A-flu-en-te,

Paraty, Goias, Goytacaz

Pimenta do reino na feitoria

Faz backing vocal no tempero

E tem cheiro


Cor de ouro e prata

A bota, o arcabuz e o facão

Arriam a floresta no chão

E impõe o concreto da razão

Sem

O alicerce de cocar e o louvor a Terra

Que o Xamã vermelho chamou

Para despistar Anhangá

Durante o Huka-Huka dos Kamaiurá


No Kuarup

Araribóia, Sardinha

Vieira, Tchucarramã, Raoní

Eu quero os irmãos Villas Boas aqui

Estamos todos marcados

Mas

Há apenas um deus que corre nas veias

E que nos acaricia o rosto

E sustenta os pássaros?

Não,

Eles são mais de um

Em Guarací, Jaci e Rudá

Eu vejo o Brasil na TV

E o que foi o início

De EU a VOCÊ

Mas não sinto o canto da mata

Quase não ligo

Quando você mata

E talvez finja não ver

Quando matam você 

Não há aqui

Um problema comum

E não se reduz ele

A apenas um

"Guanabara, guaraná, Araribóia

Vatapá, acarajé, feijão, tutu

Feijoada, Xavantes, Yanomamis

Xingu"

______ Sylvio Neto

"*", versos de Renato Aranha em Terra Brasillis