domingo, 28 de novembro de 2021

Vale Tudo


Vale Tudo - por Isac Machado


VALE TUDO:

Vale Mariana,

Vale Brumadinho,

Vale 300 corpos

sob a lama,

Vale a chama

na floresta,

Vale a indenização não paga,

Vale a lama cruzando a estrada,

Vale o garimpo no Madeira,

Vale uma comunidade inteira

sob a lama da Vale.

"Privatiza que melhora".

E a Vale é privatizada. 

A morte é privatizada.

Os garimpos são particulares.

O Brasil sob os olhares

assustados do mundo.

O imundo.

O vagabundo.

O submundo.

A farsa.

A balsa,

o mercúrio,

a morte no rio:

na água, 

no peixe.

O deputado arregado, 

o vereador, 

o prefeito,

o governador,

o senador,

o juiz,

o procurador,

o desembargador,

o padre,

o pastor,

o presidente,

a autoridade ambiental.

O mal estabelecido aqui.

O garimpeiro

que é caçador de javali:

60 armas

para armar uma milícia.

A Polícia Federal

e a Marinha

a serviço do crime,

por omissão

ou por proteção 

ao criminoso, 

que descaradamente

avisa, de novo, 

sobre uma suposta operação.

Padrão militar.

"Vale tudo,

Vale o que quiser,

só não pode AMAR 

homem com homem

nem mulher com mulher",

que a igreja não gosta.

"O resto VALE".

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Olhos de Coração


Olhos de Coração
por Sylvio Neto


Meus olhos são faróis

a me guiar

e ainda anzóis

mergulhados no ar

a pescar abraços


Meus faróis

não se apercebem

da claridade ou da escuridão

de cada ser...

cada um é um abraço -

eu simplesmente deixo acontecer


Quando vejo, já é tarde

meu anzol iscou quem come criança

quem despreza e maltrata um idoso

quem destrói uma família

quem cospe na amizade


E aí já é tarde...

O abraço já foi dado

no olhar fica a saudade

do tempo, que o ido, fora de verdade




sábado, 21 de agosto de 2021

Sei bem do inevitável



Sei bem do inevitável
Por Sylvio Neto


Sei bem do inevitável, com o passar dos anos vou falar mais sozinho do que falo agora.

Ainda sobre revolução e evolução, a sociedade anda tropeçando - tropega involui

Os dias passam e não observei, forma nova de falar de amor, tipo um, Eu te amo, dito de forma diferente

No dia a dia, é: Bom Dia e a resposta, quando vem é "valeu"
Nós brasileiros, que criamos o "desamor" e o "ódio", como forma de ginga de corpo e comportamento social, reinventamos a nossa forma de amar

"Em linguística, o estudo da evolução linguística (ou mudança linguística) é comumente realizado no âmbito da linguística histórica"


Em tempos de vida de gado, fake news, neurolinguística, rachadinhas e negacionismos e o ódio a Talibãs afegãos, é somente de boca pra fora, a polarização entre a minoria gigante e a maioria pequenérrima, no Brasil


Cria novos verbetes:


ELES: - Ahh vai pra Cuba, seu esquerdopata comunista
NÓS: bolsominion, mete o pé pro Afeganistão, seu talibã tupiniquim

O abraço, antes da Covid 19, já estava morrendo
( Toca Zero Counter, do Cabeça de Nego)


segunda-feira, 16 de agosto de 2021

A mentira tem perna curta

Por Francis Ivanovich


Jamais esqueci de uma cena em 2018, quando após as urnas eletrônicas confirmarem a vitória de Jair Bolsonaro, eleições limpas, vale ressaltar, ouvi de uma senhora moradora da Tijuca, Zona Norte do Rio, uma conhecida, de que ela havia votado nele, porque o Brasil precisava de ordem e progresso. Foi uma frase marcante que, confesso, não consegui refutar, em meio a perplexidade da vitória do candidato de direita. Passados quase três anos, não sei o que essa senhora pensa dos dias atuais, mas quero crer que ela, assim como qualquer pessoa de bom senso, tenha discernimento para constatar, sem medo, de que este governo é, sem dúvida, desordem e atraso.

Muitos dos que votaram em Bolsonaro hoje se sentem traídos. Na verdade, muitos desses eleitores foram enganados e influenciados por uma máquina digital fabricante de mentiras, sem precedentes da história, além da montagem de uma farsa jurídica arquitetada pelo Juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava-Jato, que culminaram na prisão de Lula, impedindo-o de participar daquelas eleições. Uma trama impressionante, em que a demonização do Partido dos Trabalhadores e de Lula, acabaram cooptando pessoas como a senhora que me disse tão marcante frase.

Adolf Hitler em seu círculo criminoso repetia uma frase: "as grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira do que numa mentira pequena". Um dos que ouviam essa frase do ditador alemão, era Paul Joseph Goebbels, o ministro da propaganda na Alemanha Nazista entre 1933 e 1945, quando o regime hitlerista foi derrotado. Goebbels era, mal comparando aos dias de hoje, um grande fabricante de Fake News. Sabia como poucos manipular a informação e influenciar o povo alemão no pior sentido. Hoje, no Brasil, cada vez mais compreendemos como foi possível o aparecimento de uma figura como Hitler na Alemanha. Ao que tudo indica, os regimes ditatoriais utilizam-se como matéria-prima fundamental para seu projeto de poder, a mentira.

O atual governo brasileiro não tem como negar que mente. O presidente Bolsonaro, por exemplo, segundo o relatório da Organização Não Governamental Global de Expressão 2021, fez declarações inverídicas cerca de 1682 vezes, uma média de 4,3 ao dia. É neste ponto que entendo ser chave para entendermos ser um dos fatores da debandada de eleitores que a cada dia se sentem enganados. Outro fator importante é a insegurança. Este governo e seus seguidores passam, a cada dia, sensação de insegurança, descontrole, desordem. Um dos episódios recentes que muito assustou as pessoas de bem deste país, foi o vídeo em que os cantores Sergio Reis e Eduardo Araújo conclamam os caminhoneiros para paralisar o país.

Enquanto isso, do outro lado, vemos um líder maduro, coerente, sensível, que pensa de fato na ordem e no progresso do país. Um líder que não perde precioso tempo com a discussão rasteira, o bate-boca quase infantil. Lula demonstra a todo o instante sua grandeza. Um homem de verdade, um líder preparado para enormes desafios. Se eu encontrasse outra vez aquela senhora, certamente com cortesia lhe convidaria a abrir os olhos e o coração para a realidade. Como diz o povo, a mentira tem perna curta. E este governo já está de joelhos.

* Francis Ivanovich é jornalista, diretor de teatro e cinema e autor


quarta-feira, 2 de junho de 2021

A gente não mudou o mundo, mas aprendeu a ama-lo.

A gente não mudou o mundo, mas aprendeu a ama-lo. 
Por: Zélder Reis

Esta é uma das imagens mais intrigantes e sensíveis dos atos do 29M. Aparentemente um jovem, todo protegido de EPIs, levando um carrinho improvisado com saco preto amarrado simbolizando um saco de defunto e um cartaz: "Eu trouxe meu pai, ele havia votado em você Bolsonaro".

Por mais que pareça um simples protesto nos faz pensar: Por que um filho traria o corpo do pai já sem vida para um ato público e politico. Sanitariamente teria que enterra-lo sem velório e sem despedidas. Se pensar na forte ligação entre pai e filho seria o último passeio, a saideira no bar, as páginas finais do livro que o velho gostava ou simples medo da solidão.

Mas esse jovem nos conta um segredo. “Ele havia votado em você Bolsonaro.” Essa parte eu entendi, o tamanho do papel era pequeno. Ele queria dizer mais, que o Pai acreditou em suas mentiras, vestiu a camisa amarela e condenou os comunistas, gays, mulheres, negros, Brasil acima de tudo e deus acima de todos. O simples: Havia votado. Explica tudo e faz refletir no voto sem consequências.

Hoje é preciso respeitar o luto e desejo de um jovem equipado de EPIs, um corpo contaminado e lacrado para não contaminar. Mostrar sua dor, a mesma de amigos e parentes de 460 mil mortos pela pandemia do covid19, essa que muitos negam e outras já não percebem mais, porque nos tornamos um grande cemitério.

Esse jovem pode ser um a artista, um militante, mais um brasileiro que conseguiu por pra fora um sentimento que aprisionado adoece, que inspirado vira arte, que revoltado vira guerra, que indignado vira Libertação.

Dedico este texto aos mortos e aos vivos, pessoas que perderam amigos, familiares de sangue ou não. Ao meu amigo Evandro Aleluia. Descanse em paz, a gente não mudou o mundo, mas aprendeu a ama-lo.

terça-feira, 16 de março de 2021

Espinhoso debate

Texto de Isac Machado

 SE SOU UM DEFENSOR DO ABORTO?

Não. Não sou. Eu sou a favor da legalização do aborto. Na verdade, fico constrangido de me manifestar sobre isso, já que não sou engravidável. Eu defendo que homens assumam a paternidade e que as mulheres decidam sobre seus corpos e sobre tudo que esteja dentro dele.


SE SOU A FAVOR DO CASAMENTO GAY?


Eu sou a favor do amor. Eu nem tenho o direito, na condição de homem, hetero, de me posicionar sobre isso. Se sou a favor do casamento hetero, por tabela sou a favor do casamento homo. Na verdade, nenhum gay nunca me pediu em casamento.  Logo, não tenho que me posicionar sobre isso. 


SE DEFENDO A CRIAÇÃO DE IGREJAS GAY?


Não. Não defendo. Eu defendo a existência de igrejas acolhedoras. Não deveria ser necessário uma igreja gay, assim como é inadmissível uma igreja hetero. Igreja deveria ser um lugar para todos e todas, para gente. 


POR QUE SOU UM ESQUERDISTA?


Oxente! Alguém consegue ver a pauta do evangelho na direita? Alguém consegue ver a agenda de Jesus Cristo na extrema direita? A pauta que eu defendo, a pauta de Jesus, do evangelho é a pauta dos DIREITOS HUMANOS, das diferenças, das liberdades individuais, do trabalhador,  da segurança alimentar.  É por isso que sou um "comunista dos infernos", seguidor de Jesus Cristo. 


A pauta "FAMÍLIA, DEUS, PROPRIEDADE" é a pauta da hipocrisia. Deus não precisa de defensores capazes de matar "por ele". Família é diversidade. Todo LGBTQ+ vem de uma família. Família protege,  acolhe, não solta a mão de ninguém. Deveria ser assim. 

Enfim,  precisei me desviar de uma igreja que se desviou, por uma questão de saúde mental e espiritual.  Fiquei com o Cristo que a igreja descartou para adorar o genocida baalsonaro.



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Será que de fato radicalizamos?

 Será que de fato radicalizamos? 
Kaike Netto Barreto 30/01/2021


No século passado, tivemos na igreja três momentos ímpares que nos convidaram a uma radicalização do nosso jeito de ser e agir. O Concílio Ecumênico Vaticano II, A II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano acontecida em Medellín e a III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano. Os três têm em comum o convite à radicalização preferencial pelos pobres. A grande pergunta que nos assombra depois de passadas mais de três décadas é: Será que de fato radicalizamos? Dentro da minha pouca experiência de fé e da quase inexistente experiência teológica, eu, um simples leitor e curioso pesquisador, me arrisco a falar um pouco sobre esse tema tão abafado pela elite conservadora, e tão perturbador àqueles que buscam de forma assídua ou fortuita viver esse jeito novo de ser igreja. Essa reflexão nasce duma fala do Papa Francisco que diz assim: “Quem não segue o Concílio está fora da igreja”. Concordo com Francisco! Quem nega esse Impulso Divino, ou melhor, estes três impulsos Divinos, está fora da igreja. Fora da igreja de Francisco de Roma e de Assis, Fora da igreja de Hélder, Casaldáliga, Arns, dentre tantos outros companheiros e companheiras que lutaram e lutam para que a verdadeira igreja de Jesus não ficasse tolhida em poucos cantos dos templos espalhados pelo mundo a fora. Quem nega o Concílio está fora, sobretudo, da igreja de Jesus. No Vaticano II a igreja foi convidada a optar preferencialmente pelos pobres, mas mesmo assim foi uma coisa frívola porque infelizmente a maioria dos presentes não entendeu o verdadeiro sentido da coisa. Percebia-se que era preciso adaptar as ideias conciliares à realidade da América Latina que, inclusive, é bem diferente da realidade europeia. Então Deus em sua suprema sabedoria sopra novamente sobre a igreja e acontece Medellín, dez anos mais tarde, Puebla e nesses os ideais conciliares ganham força e os pobres não se tornam mais opção, mas uma radicalização. Eis o desafio. Passadas algumas décadas, nós, nos dias de hoje paramos para analisar toda a trajetória libertadora que começou no Vaticano II e nos perguntamos: o que aconteceu? Será que deixamos essa chama se apagar? Tenho certeza que não! Lá no fundo essa chama ainda fumega, ainda mais nestes tempos felizes do papado de Francisco que a todo o momento traz para o cotidiano da igreja os ideais conciliares. A pequena parcela da igreja que assumiu o compromisso dos três acontecimentos supracitados foi perseguida e, em muitos casos silenciada. Infelizmente a igreja viveu tempos de trevas, houve muita opressão até que o sol voltasse a brilhar. Voltando ao cerne desta reflexão, nos perguntamos: Será que de fato radicalizamos? Penso que muitos de nós não. Hoje nas nossas comunidades - do campo conservador ou do campo mais progressista - vemos muito se falar de pobre, dar uma ajudinha aqui e outra ali, e isso é bom, claro! Mas não é suficiente. Radicalizar pelos pobres e com os pobres é mostrar para eles, através da partilha de experiências e da palavra divina que aquela realidade não está correta, não é digna e vai contra a proposta evangélica e, a partir desse momento unir-se a eles em luta para mudar esse quadro infeliz. A igreja precisa estar nas ruas, nas praças, nas repartições públicas rezando e lutando. A igreja precisa ser a voz dos calados e força dos enfraquecidos pelo sistema de morte uma vez instaurado no Brasil. Como diz o querido Dom Sérgio Castriani, precisamos “sair da sacristia”. Enquanto não entendermos que precisamos da ajuda do Pai Nosso para lutar pelo Pão Nosso, nada mudará. Ninguém vive só de Pai, muito menos só de Pão. Os dois se relacionam plenamente para assim libertar o oprimido. Não mudaremos este quadro enquanto ficarmos falando de ajudar o pobre e gastar uma fortuna no “trono” do presidente da celebração ou até mesmo gastar uma fortuna comprando um cálice cravejado de esmeraldas. Sim, Deus merece o melhor, mas eu tenho certeza que o melhor para Deus é ver que aquela mãe não dorme mais com seu filho debaixo da ponte e não passa mais fome. Que nos tempos que virão, possamos nós enquanto pessoas que carregam no peito a tatuagem do amor de Deus, cuidar agora do essencial e o supérfluo deixar pra quando der. Que com fé, esperança e luta sejamos nós instrumentos de Deus na vida dos tantos irmãos sofredores e que um dia, possamos afirmar: De fato, radicalizamos!