domingo, 26 de julho de 2020

NOSSO BEM E MAL DE CADA DIA




NOSSO BEM E MAL DE CADA DIA por Sylvio Neto

O homem é dual. Nasce assim, revestido do bem e do mal. O dualismo nasceu com o homem, cresceu junto à sua curiosidade e desenvolveu-se junto a seu desenvolvimento. 

A luta do bem contra o mal é primeiro interna, emana em cada ser e transcende influenciando toda a sociedade.

O legendário Zoroastro, escreveu o Zend-Avesta, ali fundamenta a eterna guerra, entre a luz do criador e protetor do bem Ahura-Mazda e as trevas de Arimã, deus do mal.

Aqui, hoje e ainda amanhã, seremos influenciados pelo pensamento e cultura religiosa dos Medo-Persas. A paisagem dos grandes centros urbanos está regada de bem e mal.

Cruzam-se estas duas forças, a todo o momento, nas ruas, nos sinais, nos mercados e cinemas. O olhar em volta estará impregnado de bem e mal, quando comparamos, mesmo de maneira non sense, a arquitetura contemporânea de prédios luxuosos de janelas espelhadas e revestidos em mármore negro, com os barracos das várias favelas que coexistem no mesmo ambiente. 

Acordar na favela não é poético e nem bonito, como mostrado nas imagens do Orfeu, de Tony Garrido. 

Da paisagem vista da janela, pode-se dizer que o Vidigal mostra uma exceção, é um ponto fora da curva. A brisa, o frescor de um sol ralo e ainda frio, são adjetivos que não servem para descrever uma manhã na favela. 

O cheiro de esgoto é maior pela manhã, o choro das crianças e os pedaços de sacolés plásticos pelo chão, ainda sujos do produto principal, desta América que temos, é o que salta aos sentidos. Um dia de renovados sonhos, é aniquilado pelo odor e pela mesma paisagem ou até pelas gargalhadas de diversos calibres, anunciando a abertura da boca ou uma invasão policial. 

Viver dividido entre o trabalho de vapor e a atividade artístico musical no R.AP, deixava-o confuso. 

Todas aquelas letras engajadas, denunciando e discriminando as atividades marginais do mundo do tráfico, produziam em sua cabeça um misto de sonho e revolta. Era preciso tomar um rumo. 

Buscava ler, experimentava conversar com os parceiros do crime, tentava compreender as diferenças ideológicas, pregadas pela galera do Hip Hop. Em meio a enorme confusão mental que o afligia, transcorriam as etapas do festival de Hip Hop da Associação. 

Era preciso ter coragem para enfrentar-se, para decidir “se”. Estava impregnado de bem e de mal. Em certos momentos, pensava ser uma bomba relógio, um homem bomba palestino pronto a entregar seu destino. Mas tinha de vender a carga, para alimentar sua mãe e irmãos. 

Tinha dois talentos, tinha duas escolhas e dois pensamentos. Era necessário matar um leão por dia, botar a cara para a porrada, “enfrentar a ventania” como sempre dizia, com voz rouca e séria. 

Sábado à noite, ia rolar um bonde. “Vamos sacudir geral, aqueles canalhas. O morro vai ser nosso de novo”, falava o patrão.

Ele gostava do patrão, conheciam-se desde garotos, foram criados juntos. Juntos foram preparados para o crime, na escola da vida. Seu conceito de bem e mal, poderiam ser analisados como conceitos adquiridos em um mundo paralelo, uma outra dimensão, grandiosa, visível e esquecida.

Era preciso decidir. Sábado à noite seria a final do concurso. Se perdesse a final, perderia a chance de mudar. De ser outro. De produzir mudanças no mundo a sua volta. Se perdesse o bonde, seria uma covardia, uma traição. 

Mais uma vez o dual, a eterna luta, começava por dentro e impregnava o meio.
Amanheceu, um sábado bonito demais. Talvez porque ele quisesse que assim o fosse, talvez porque precisasse. Não acreditava em milagres, acreditava na necessidade de que o milagre acontecesse. 

No trem da malandragem o R A P, foi seu trilho, ganhou o concurso, deu entrevista a jornais e revistas especializadas, falou a MTV, e assinou contrato com a Bandana Discos:“Vou mudar a comunidade, criando oportunidades de uma nova escolha e uma nova escola”, sonha alto. 

Seus sonhos contagiam e, já é domingo à tarde e, o bonde não voltou...

terça-feira, 21 de julho de 2020

Memórias de Traição e Dor (De Um Dente)



CONTO MÍNIMO de Siyvio Neto 
Memórias de Traição e Dor (De Um Dente) 


Tenho muitas lágrimas a dar a minha face, depois da grande perda de meu amor e elas brotam por qualquer latido dos cães de minha rua - e são tantos cães e tanto latido que eu acho que desenvolvo uma espécie de TOC - perdi a vontade de quase tudo e não me sinto a vontade com a vida e a pseudo liberdade de estar vivo 

As lágrimas rolam na face escura e em cada recôndito de meu universo corpo e em cada universo de minha recôndita cabeça memória - sinto dor e dor e dor 
Estranho pensar e falar assim, quando se trata, de perder parte da minha história, História? 
Em meio a esta idílica solidão, pau de dar em doido, me surge uma dor de dente - ao dente - precisa, concisa, única, onisciente e onipresente dor, para somar a lembrança e dor, de meu abortado amor 

Uma adaga enfiada no quarto dente, antes do canino, me faz sangrar em dobro, pois a outra, foi tal estaca, cravada em meu coração. E de dois em dois analgésicos, durante o dia, cheguei ao fim do blister. De tantos, "um instante", "um minuto", um talvez! Ressequei o canto da boca e pareço um pancadão de boca torta, boca morta, mas não sem dor, de dente, ...Da alma. Dor de dor de dor. 

Ainda há pouco continuava metido, enfiado, comprometido, com os goles do penúltimo litro, dos cinco, de cachaça mineira que havia comprado - no coquetel com as duas últimas pílulas de analgésico, a tentar a alquimia de um veneno – mas tal barata resistente, continua a doer-me o dente e pulsa descompassado o coração, tal um comunista moreno, que acredita em assombração 

Tentei ler um livro de poemas, um livro de poemas nunca é um livro qualquer, pode ser qualquer um, menos um qualquer 
Alvarez de Azevedo 
Não consigo! Não consigo me concentrar, já havia tentado ouvir música. 
Quem sabe um filme? 
Sim, vou assistir Batman 
Pois sim, o Batman, com dor é melhor de se ver, para assim, saber, com o que lida o Coringa. 
De repente, sem mais e sem menos... 
Sem mais nem menos - depois de tanta química e bagaça líquida a dor me some: "sabe aquela coisa que tu pensa, pra onde foi?" 
Ah! Que bom seria viver a vida, sem a dor do peito, que mancha com lágrimas a pele envelhecida 
Ah! Que bom é sentir a vida, sem a dor de dente - Um viva a cachaça, senhora alfa e ômega que me faz dormente. 
Ah! Que boa é a vida - inda que com o peito em dor 
E que melhor é ela, sem a dor do dente, que nem a maldade do coringa salva 
Viva a cachaça e os analgésicos 
E eu, ainda quase descubro para onde estão indo as paredes e o teto da sala 
Ouço abelhas e, penso sobre os por quês, da distância entre a tevê e meu mundo de menino 
Viva a morte da dor e minha grande descoberta - Após muitas dores, pesar e pensar, passo a crer que as lágrimas vêm do lugar para onde as abelhas seguem em êxodo: 

"Não, não e não...É claro que não foi o promotor Harvey Dent, que me curou a dor de dente, foi a bagaça que a jogou pra frente"

domingo, 19 de julho de 2020

Carta da Lua e Saudade







Carta da Lua – Conto mínimo de Sylvio Neto

Que bom seria se a vida começasse em você, que fosse ainda o nascer do sol em seu brilho da manha e o momento sublime de seu poente em raios luminosos a se esconder por detrás da serra de nossa paixão.

Ah! Quem me dera fosses tu a alegria de viver e o riso transcendente de ser
Quem me dera fosses verdade, carinho, harmonia e cumplicidade.
Se fosses a lua, os sonhos, o lençol.
Eu seria seu eu, teu sonho que se perdeu.

Queimaríamos junto todo o fogo que de nosso amor se desprendeu




Saudade – Conto mínimo de Sylvio Neto



O brilho, que explodia de seu peito era, o do cabo de uma faca, que erigia-se de seu coração para o mundo em 3D,



O sangue misturado a sua pele, sugeria uma aquarela surrealista e sua expressão morta e pálida, ainda demonstrava paixão


E ela, limpando-se com um lenço, que trazia bordado suas iniciais, chorava a saudade que a comeria viva, pelo resto de seus dias sem seu amor.

Pão-Demia


Pão-Demia por Zélder Reis



Minha reflexão sobre a volta das missas e cultos presenciais, passa por exclusão e Graça!

Claro que o indivíduo pode escolher, "Fico em casa cumprindo minha parte em proteger e ser protegido, pois não tem Vacina, assisto a missa pela internet ou tv, e busco a força na palavra e comungo em espirito" ou “arrisco tudo e vou a missa presencial.”

Graça:
“Devemos crer na comunhão espiritual” Mostrar empatia e preocupação com os idosos e todos do grupo de risco que podem perder suas vidas ou infectar familiares. A consagração do pão eucarístico e do vinho, não necessita de nossa presença. “Nas bodas de Canãa da Galileia a mãe de Jesus disse: Façam tudo que Ele vos disser” e água virou vinho. Na Santa Ceia Jesus disse “façam isso em memória de mim”

Exclusão:
Disse Jesus “Eu sou o pão vivo que desceu do Céu” disse também “o pão nosso de cada dia, nos dai hoje” para todos sem discriminação. Jesus na simbologia ou no significado transcende nossa compreensão, sua dimensão metafísica não é aceita por fundamentalista. As pessoas simples do povo são entorpecidas por excessos de ritos, medos, promessas, a teologia da prosperidade nos condiciona e não liberta. Jesus falava aos pobres (humildes) por parábolas. Nossos padres e pastores fazem pregações, partilhas celestiais, separam a fé dá da vida comum e nos enchem de uma culpa pra gerar dependência. O Evangelho é desafiador, propositivo e promove o encontro de nós com nós mesmos. O mérito não é proposta de Deus,  Seu proposito é a Graça, de graça, igualdade, justiça, paz, perdão.

E se você for a missa ou culto, na devoção, na fé que cumpre a vontade de Deus, e quando chegar a hora tão esperada da comunhão, será que a pregação vai fazer você sentir-se numa merecida comunhão? Ou Será que a partilha do padre / pastor vai fazer você lembrar das pessoas excluídas da comunhão, idosos, diabéticos, enfermos, diversos grupos de risco e aqueles que respeitam a vida e comprem em casa o papel da quarentena?

Só faz sentido o pão e vinho quando chega aos excluídos, achar que é merecimento é um erro, “O Filho do homem veio salvar oque estava perdido”, a eucaristia no evangelho é graça, quanto mais ritos, mais exclusão, quanto mais promessas mais nos distanciamos do amor.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

SEU MUNDO PODE SER CRIADO



Seu mundo pode ser criado - Por Sylvio Neto / Imagem Crica Monteiro



Seu mundo pode ser criado, seguido ou imposto. 

A estes formatos de caminhar, estarão diretamente ligadas a formação intelectual, condição
econômica e instrução religiosa. 

Assim, ele pensava a cerca das coisas. Assim, ele dava seguimento a sua vida.

“A poesia mora em mim, e eu moro na poesia”, era o bordão, o slogan que enunciava, em todas as oportunidades possíveis e impossíveis. Não chegava a incomodar com isto, não era necessariamente um chato. Não tinha método por incrível que pareça, não era, portanto mecânico, plástico, volúvel e efêmero talvez. Afinal era todo ideia, a ideia dominava a forma.

Ninguém é perfeito, tinha lá seus vícios. Nada que pudesse causar mal a não ser a ele próprio e talvez também a seu casamento. 

A dignidade que perseguia estava sempre a alguns centímetros de seus dedos, era uma meta. Sabia bem, entendia perfeitamente a coisa dual do amor, que comparava a uma flor, ”que encanta pelo belo que deixa ver”, e da “amarga dor que causa o espinho que nesta mesma flor habita”. 

A verdade é que viviam brigando, o casal, não suportava o tamanho de cada um. Talvez ela, não suportasse o fato da poesia morar nele, e dele morar na poesia.

Naquela manhã, a sensação era ruim, havia dormido mal, tivera pesadelos de morte, coisa ruim. Ela já estava de saco cheio, desde anteontem.

Foi inevitável a briga.

“Espero, que tu morras, que não voltes mais a minha vida. Poeta de merda”, foi à última frase que ouviu dela. 

Felizmente tinha memória, pensava caminhando, ao menos assim podia lembrar-se, de melhores frases e desejos de sua amada flor. Sua cabeça, não funcionava bem. "Não era para menos", pensava, uma puta noite mal dormida, e uma gritaria infernal pela manhã, não é o que nenhuma mente precisa.

Como a promiscuidade da mente leva a promiscuidade do corpo, resolveu passar no morro, pegar umas paradas, antes de ir reunir-se aos amigos. 

Entrou na fila, fez o pedido, e antes de ser atendido, foi surpreendido pela correria, gritaria e tiros. 
Sua mente pensou rápida, era uma invasão. “E agora o que fazer?”, pergunta-se. “ Muita calma nesta hora” é uma gíria e até um argumento, que não cabiam naquele momento.

Olhou a volta, escalou um portão aberto, e pensou, “é ali”.

Mas antes de agir, foi baleado - pânico, dor, sangue, “muito sangue”, disse em voz quase sussurrada. 

Ainda deu tempo de pensar os versos de sua última poesia, deixada sob a cômoda do quarto de dormir, antes de sair de casa
“minha poesia não tem luz, não tem deus. Sustenta-se por si própria. E nasce quando eu quero”.

Estava ali, atendido o pedido dela, o poeta não voltaria mais a casa. 

E a poesia que era ele, morria nele. 

Nascia por sua vontade e morria agora contra. Não era mais igual, nem diferente. Nem triste, nem contente. 

Era morta.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Afagar a terra



Afagar a terra -  Por Zélder Reis 

Afagar a terra
Conhecer os segredos da terra
Cio da terra
A propícia estação
E Fecundar o chão!

Afagar o Homem
Conhecer os segredos do Homem
Cio do Homem
A propícia estação
Pra haver evolução!

Afagar a Mulher
Conhecer os segredos da Mulher
Cio da Mulher
A propícia estação
De sua afirmação!

Afagar a Vida
Conhecer os segredos da vida
Cio da vida
A propícia estação
De sua preservação!

Afagar Deus
Conhecer os segredos de Deus
Cio de Deus
A propícia estação
Do amor sem negação!


*Sobre a música de Milton Nascimento e Chico Buarque "Cio da terra" 

domingo, 12 de julho de 2020

A BULA



A BULA  -  Por Sylvio Neto


Não tinha apego à vida. O que não significa que desejava a morte. Seus cuidados com a saúde eram nenhum. Sedentário, não fazia exercícios, ação que julgava um grande excesso, era um móvel, movia-se por extrema necessidade e mais por força e ação do dia a dia que de sua vontade. Não tinha uma vida permeada por regras. Até gostaria de ser uma pessoa metódica, mas, não o era. Tinha manias, algumas esquisitas, poder-se-ia dizer “muito esquisitas”. Sua vida não era normal, mas não se poderia afirmar que era um excêntrico. 

Não tinha o vigor criativo e doentio de Eugene O’neil, e talvez dele nunca tivesse ouvido falar, da tragédia não se encantava nem com o bode nem com os cantos, partes de um culto que lhe eram tão familiar quanto O’neil. Os problemas eternos do homem não o interessavam, o destino, as paixões e a justiça, eram para ele questões teóricas que acentuavam a desordem mental inerente a todo ser humano, preferia rir e tomar uns tragos, brindar o dúbio comportamento e o escárnio que sentia da sociedade. Era um homem de vanguarda, um obreiro, um para militar a serviço de sua própria tragicomédia. Obra original de sua autoria, que jamais iria contextualizar. 

Sentia-se cheio de vida, e de sua saúde regozijava-se. Uma de suas manias era comprar remédios. Só para tê-los em casa, para ficar observando, uma coleção da qual podia debochar. Era realmente um homem de vanguarda. 

Desprezava a ciência e os médicos, Sua hipocondria, era de colecionador, de vitrine. Que diria ele desta comparação? Tinha na ponta da língua, diversos casos de erro médico, com detalhes de datas, vítimas e locais. Por não gostar da internet, gastava horas infindas em cartas, artigos e teses a revistas, jornais, programas de Tv e rádio. Tudo o que pudesse fazer para expressar seu repúdio a ciência de Hipocrates de Cós. 

Tamanha era sua atuação, que chegava a ser conhecido de membros do Conselho de Medicina, que o odiavam. E por tratar-se de um Conselho muito corporativista, o contágio do repúdio circulava de médico em médico. “Dia da caça, dia do caçador”. 

Certo dia foi acordado no meio da noite para socorrer um vizinho. Na verdade um grande desafeto. Não era nenhum estoicista, mas também não vivia somente para o prazer, afinal não se deve negar água a quem tem sede. Levou o indivíduo - termo usado por ele, para designar o vizinho doente – ao hospital, estacionou onde era possível, em frente a uma garagem, mas naquela hora não haveria de importunar ninguém, pois, somente iria despachar o indivíduo e sua família e voltar aos braços de Morfeu. Para sua surpresa, os minutinhos em que se demorara haviam se constituído em meia hora, e seu carro estava com os vidros laterais quebrados e fora empurrado para o meio da rua. Seu ódio, que quase sabia guardar bem, tomara-lhe todo o corpo e mente. Seu repúdio a classe médica e a necessidade da utilização de seus serviços tornara-se ali maior e maior... 

Quando se dissipou parte de sua ira, pode ver o cartaz que pendia sob o portão de garagem que travara: “Não pare nem por um minuto, pois, se eu quiser entrar ou sair, serei obrigado a quebrar seu vidro lateral”. 

Maldito hospital, malditos funcionários, maldita ambulância que não socorreu aquele besta fraco e malditos médicos, resmungou – por uma semana seguida. Era realmente um homem da oposição, da diferença. Seu conceito de realidade fazia-o destronar todo o pensamento em torno do pecado, moral e da graça. Embora tivesse pouca leitura e passasse a quilômetros de distância da intelectualidade filosófico-literária, tinha decorado uma passagem de Nietzche: “o que é bom? Tudo que eleve no homem o sentimento de potência, à vontade de potência, a própria potência”. 

Pois é, certa noite deleitou-se em Whisky. Foram duas garrafas de Jack Daniel's, e o coração gritou. Uma dor insuportável no peito, coisa séria. Nunca havia se sentido assim, aliás, jamais houvera sentido qualquer dor, mas, intuitivamente soube que aquela medida era exagerada. Dor e medo, no espartano, dor e medo – estava doente. Gritava feito criança, toda a casa estava nervosa. Os gritos chamaram a atenção da vizinhança e por seqüência ao tumulto, da polícia. Faltava a ambulância. O homem mudara de cor, arfava por não conseguir respirar. 

Sua mulher sai aos gritos: Uma ambulância, uma ambulância. Essa chega, e quando adentra o imóvel, já é tarde, o homem caído no chão sobre uma imensidade enorme de frascos, vidros, tubos e ampolas de remédios dos mais variados tipos e tamanhos. Dava a impressão de que num último e gigantesco ímpeto, tentara alcançar a salvação no que tanto houvera desprezado. Preso a sua mão uma bula, que dizia, “não use este medicamento antes ou após ingerir bebidas alcoólicas. Não cessando os sintomas procure imediatamente um médico”. 

O universo às vezes conspira contra. Não existe verdade mais absoluta que a própria realidade. 


quinta-feira, 9 de julho de 2020

HOMO DEMENS



HOMO DEMENS - por Sylvio Neto


Na nova Ordem Mundial
A ordem é atirar na cabeça
Pois que
Não há soro que baste
Ao espetáculo da demência
Anglo Saxã

Com o inimigo público
É melhor prevenir que remediar
Por isso não se esqueça
A ordem é atirar na cabeça
Pois que
Não há sangue que sacie
A sede da besta

Uma, duas...seis, sete
Confira o troco
Na contagem de corpos

Vinda do Oriente
A história se perde
Nos ponteiros partidos do Norte
Na Nova Ordem Mundial
Não se conta com a sorte

Não pense em voltar para casa
Aproveite a diversão
Pois que há feridas abertas e cortes
No açoite dos olhos da morte

Esconda sob o casaco uma esfiha
E exploda um avião
Na Nova Ordem Mundial
Não há hambúrguer que se compare
A tâmaras frescas
Ajoelhe-se para Meca e ore
Pois haverá sangue em seus lábios

Ensaque sua cidadania ferida
Percorra os trilhos histéricos
Da poesia perdida
Na História sem razão
E apague o que é futurível
Com cinismo e perversão
Na Nova Ordem Mundial
A ordem é atirar na cabeça

segunda-feira, 6 de julho de 2020

A geração Z, redes sociais, fé e sociedade!


A geração Z ativa nas redes, mas também na fé e na sociedade! Por Zélder Reis
Fizemos um papo para blog com Kaike, estudante e religioso de Cabo Frio.


O jovem de 2020 tem muitos anseios, sonhos, ligados na tecnologia muitos usam pra fazer o bem, a maioria. Mostrar sua opinião, mostrar sua cara ao mundo, oque pensa, é uma coisa que temos construído. Cada vez mais o jovem tem se manifestado, mostrado ao mundo, algo que a um tempo atrás não víamos tanto, mas ainda tem pessoas guardadas a si. O jovem de hoje é cheio de anseios, sonhos, que luta pela sua verdade, pela fé, pela cultura, pela religião, pela politica, o jovem tá vivendo e acompanhando todas as mudanças e tudo que acontece no mundo.

O maior desafio dessa geração é o próprio “EU”, sofrendo repressão na sociedade e não se vendo representada por ela, a sensação de não se encaixar cria barreiras. A gente não precisa mudar a nossa essência, e ser um indivíduo completo sem padrões e lutar pela sua verdade e por suas convicções.

“A religião é um conjunto de crenças e doutrinas” que precisa da fé pra viver a experiência verdadeira. A fé é interior, diferente em cada pessoa, como se fosse uma roupa que representa quem somos, sem ela não conseguimos viver nosso credo. Seguir a religião é cumprir oque está ali, não pode ser falso, a sociedade te dá liberdade, mas também é formada por religião, que influencia culturas, crescendo aprimorando e transformando.

“Nós somos discípulos de um preso politico” Que foi julgado, por um poder politico e assassinado na Cruz. Eles não aceitavam: “A vida do povo em primeiro lugar, depois o lucro” e assim Jesus se tornava um subversivo aos poderosos. Isso é muito atual, fé e politica se cruzam.

As pessoas fizeram de Jesus um rei vestido de ouro e glorias, e preferem esse a aquele subversivo ou aquele pobre que dorme no chão, passando humilhação, e frio. O leproso era um marginalizado, mas ele curou, ele incluiu. Quando disse: “Fazei isso em memória de mim” é isso ele quer! Mas as pessoas rejeitam. O padre é o “alter Christus” assume o sacerdócio para cuidar e também passa por essa decisão, ficar só dentro da igreja ou cuidar do povo? Ser o pastor, assumir esse Jesus revolucionário, subversivo, junto com os cristãos para protestar, lutar pela vida, por direitos e por igualdade, mas muitos escondem essa Missão.

Eu padre, estaria na rua com o povo, ao lado, se o povo vai sofrer o padre vai sofrer junto, sentir o povo. Quando a coisa não vai bem é preciso lutar pra dar certo. Eu pretendo ser um padre revolucionário como foi o mestre Jesus Cristo.

Penso que o padrão que a sociedade impõe conflita com a Diversidade. Deus nos ama igual e sua criação é diversa. “A igreja é o corpo e cada membro é diferente” as pessoas tem medo de quebrar a tradição, de mudar e serem elas mesmas.

Racismo não é papo só de preto, mas de todos. Todo mundo que ama tem que defender. Pré-conceito é pra quem vive, quem vê, quem sente. É triste quando uma pessoa presencia um racismo, finge que não vê, não pode ser indiferente a dor do próximo. Lutar sempre pra que ele acabe. Vemos o aumento do racismo e da homofobia. É da essência humana amar, cuidar e proteger, mesmo que a pessoa não se identifique ou reconheça que existe o preconceito. Eu não sei explicar mas ser diferente é bom demais é maravilhosa a Diversidade.

Tenho muitos amigos, pessoas queridas que respeitam, que não tem preconceito que estão guardados no meu coração. Vejo nelas um pilar, assim como a família, pra momentos bons ou ruins, que não deixam a gente cair.

O meu sonho é seguir a vida religiosa e ser um padre, estar com o povo, viver com o necessário, muitos tem pouco e poucos tem muito, mas vivemos em comum. O voto de pobreza não me incomoda. Preciso só do necessário pra viver.

“Quero falar pros jovens.” Nunca desista de seus sonhos, não deixe que sistemas, grupos ou pensamentos anulem oque você quer ser, vamos seguir lutando por igualdade, um mundo melhor, sociedade melhor, sempre pensando no próximo, pois quando pensamos só em nós o negócio não anda. Na pandemia se não pensarmos no coletivo não vamos sair da quarentena nunca, pra vencer o vírus pensemos na gente e no irmão. Não desista de você, seja você, viva você e se mostre ao mundo, e assim a gente constrói um mundo melhor!