quarta-feira, 15 de julho de 2020

SEU MUNDO PODE SER CRIADO



Seu mundo pode ser criado - Por Sylvio Neto / Imagem Crica Monteiro



Seu mundo pode ser criado, seguido ou imposto. 

A estes formatos de caminhar, estarão diretamente ligadas a formação intelectual, condição
econômica e instrução religiosa. 

Assim, ele pensava a cerca das coisas. Assim, ele dava seguimento a sua vida.

“A poesia mora em mim, e eu moro na poesia”, era o bordão, o slogan que enunciava, em todas as oportunidades possíveis e impossíveis. Não chegava a incomodar com isto, não era necessariamente um chato. Não tinha método por incrível que pareça, não era, portanto mecânico, plástico, volúvel e efêmero talvez. Afinal era todo ideia, a ideia dominava a forma.

Ninguém é perfeito, tinha lá seus vícios. Nada que pudesse causar mal a não ser a ele próprio e talvez também a seu casamento. 

A dignidade que perseguia estava sempre a alguns centímetros de seus dedos, era uma meta. Sabia bem, entendia perfeitamente a coisa dual do amor, que comparava a uma flor, ”que encanta pelo belo que deixa ver”, e da “amarga dor que causa o espinho que nesta mesma flor habita”. 

A verdade é que viviam brigando, o casal, não suportava o tamanho de cada um. Talvez ela, não suportasse o fato da poesia morar nele, e dele morar na poesia.

Naquela manhã, a sensação era ruim, havia dormido mal, tivera pesadelos de morte, coisa ruim. Ela já estava de saco cheio, desde anteontem.

Foi inevitável a briga.

“Espero, que tu morras, que não voltes mais a minha vida. Poeta de merda”, foi à última frase que ouviu dela. 

Felizmente tinha memória, pensava caminhando, ao menos assim podia lembrar-se, de melhores frases e desejos de sua amada flor. Sua cabeça, não funcionava bem. "Não era para menos", pensava, uma puta noite mal dormida, e uma gritaria infernal pela manhã, não é o que nenhuma mente precisa.

Como a promiscuidade da mente leva a promiscuidade do corpo, resolveu passar no morro, pegar umas paradas, antes de ir reunir-se aos amigos. 

Entrou na fila, fez o pedido, e antes de ser atendido, foi surpreendido pela correria, gritaria e tiros. 
Sua mente pensou rápida, era uma invasão. “E agora o que fazer?”, pergunta-se. “ Muita calma nesta hora” é uma gíria e até um argumento, que não cabiam naquele momento.

Olhou a volta, escalou um portão aberto, e pensou, “é ali”.

Mas antes de agir, foi baleado - pânico, dor, sangue, “muito sangue”, disse em voz quase sussurrada. 

Ainda deu tempo de pensar os versos de sua última poesia, deixada sob a cômoda do quarto de dormir, antes de sair de casa
“minha poesia não tem luz, não tem deus. Sustenta-se por si própria. E nasce quando eu quero”.

Estava ali, atendido o pedido dela, o poeta não voltaria mais a casa. 

E a poesia que era ele, morria nele. 

Nascia por sua vontade e morria agora contra. Não era mais igual, nem diferente. Nem triste, nem contente. 

Era morta.

Um comentário:

Unknown disse...

Olá,
Querem saber de meu sonho?

Sim, posso falar disso: "eu não quero a resiliência, e nem a meritocracia Eu quero a proficiencia"

Espero que possam me desculpar: "Eu nunca disse que prestava"

Sylvio Neto