terça-feira, 23 de junho de 2020

CARTA DE AMOR




CARTA DE AMOR - por Sylvio Neto
Agonizando a Despedida


Queria hoje, tua presença. Ah! Sim, queria...
Ontem quis. E tive, ontem, até ontem.
Oh! Céus, como foi diferente conviver em teu ambiente, gozar com teu gozo. Esposar-te na hora de meu despojo, razão e hora do amor todo, que guardei para aquele instante.

Quis tanto você, na verdade, que esqueci toda minha vaidade, e a maldade possível tão dita, pelos que olharam, séria, minha dedicação e instante.
Eu só quis fazer teu mundo novo, quis sorrir feliz de novo, quis uivar olhando estrelas, céu, noite e luar...

Eu quis perfumes, cores e sombras que vejo ao me outrar, quis enfim respeito acima de tudo, pois que, amor sem razão, é esquisito, é putaria, puro conflito.
Ah! Quanto te quis, não vais saber nunca, pois que, na mentira ficou a vontade, que é grande amiga, da verdade.

No grito, na confusão mental, no escândalo, foi-se o outro resto.
Em sinal de protesto, calei...Não te vi. Não te quis.
Sofri meu medo, perdi meu segredo.Voltei a ti – no embaralho.
Pro caralho a solidão, ao inferno com a razão.
Da razão, o sentimento é parte, fazem-se em conjunto como na arte.Unidos à entrega, na coalizão.

Deixo aqui, este, como um beijo, não como um longo epitáfio em negro jazigo. Faço deste, minha presença, sem maldade, sem razão, pois que, este, já o é.
Só, com a vontade de ti, que antes habitou todo meu ser.
Fica em paz, encontre tua parte, mas, não te acometas mais daquela arte que ousastes pintar em mim.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

UMA CANÇÃO DE AMOR...

















UMA CANÇÃO DE AMOR VINDA DO ESPAÇO 
SIDERAL PARA SALVAR MEU ESTRANHO 
ESPAÇO SENTIMENTAL  -  por Sylvio Neto

Naves espaciais rondam o céu
Sequer trazem um amor de verdade
Para aliviar minha solidão de beijos
Carinhos e desejos

O Mundo fica mais sério...quando ouço
Uma canção – é como se recebesse
Dos deuses africanos uma unção
É como se Caio e Arthur
Me recebessem com um abração

O Teatro Mágico me tira do sério
Mesmo sendo poesia, circo, teatro
E canção - dilatam a minha fantasia
Matam minha sede de alegria
E contemplam quase toda a minha emoção

Preciso dos discos voadores
Vistos por Maurinho e ainda de seus
Estranhos seres, a quem farei pedidos de pés juntos
Braços estendidos, coração, peito e testa ungidos
Para que me tragam um amor especial
Vindo do espaço sideral, um amor saturniano, Plutarco
Urâniano, marciano, interestelar...

Um amor de verdade envolto em bonito pano
Florido ou metálico, fosco ou brilhando
Um amor que não seja chato em exigências
Doente de ser, ser humano

Preciso dos discos voadores, das naves espaciais
Que me tragam seres femininos que sejam poesia
Canção em flor...Que sejam perfeitas em harmonia
Que soem em bom tom, que estejam em boa vontade

Para uivarmos juntos ao céu infinito
Fazer poemas em forma de grito
Sorrir de qualquer canção
Para caminhar na areia, na beira, na eira
Para olhar o sol se por da soleira

Para sermos nós, juntos, a dar bobeira
Para sair do sério vendo e ouvindo
O Cordel de Fogo Encantado
Para tornar o mundo mais sério
Sendo a mesma canção de amor

domingo, 14 de junho de 2020

Ataq Coletivo - Resistência Punk no Ativismo




Ataq Coletivo: Rocha, Tamy, Paolo e Priscila – por Zélder Reis

Uma banda Punk que nasce do Ativismo, que veio da necessidade de seus integrantes de expressar e mostrar os conflitos de uma sociedade que em 2020 produz fascismo, racismo, segregação, desigualdade e morte.

Tivemos um papo musical, politizado e cultural com os membros Rocha (Batera), paulista pedagogo, sindicalista que deletou o face para proteger seus dados dos nazistas, rs... Tamy (Vocal) Psicóloga, Militante, feminista, movimentos mulheres do Litoral, e Letrista da banda. Paolo (Guitarra) servidor público, professor de História, professos de lutas, Fundador da banda. Priscila (Baixista) não pode participar.

Nasceu em 2015 como um grupo de protesto, seu primeiro ato foi denunciar criativamente o superfaturamento de flores em Itajaí, com plaquinhas espalhadas na cidade e a frase “Prefeito, flores superfaturadas são feias” que repercutiu muito na mídia. Logo depois do fim grupo em 2016, Seba que era artista plástico do grupo e Paolo que era um ativista, fundaram a Banda, com a proposta parecida, batizaram com o mesmo nome pela afinidade de temas ideológicos. “Não foi uma continuidade, mas foi” diz Paolo.  O primeiro ensaio muito improvisado e sem baterista na casa do Seba, uma casa que chamava a atenção por sua pintura e design bem colorido do próprio Seba, que era artista plástico. Seba também era letrista e influenciou na construção da banda com Paolo que criava a vociferação das melodias Punk que é a grande influência do grupo, como Garotos Podres, Black Pantera, Dead Kennedys, Dominatrix, e Bolemia.

Sua maior atividade de show em uma cena desenhada é em Floripa, nas cidades de interior do Sul do país onde ainda resiste a cena Punk e tem mais presença de público do que as capitais. Rocha considera o momento histórico propício para a retomada do crescimento de um som mais engajado. O público que vai aos shows é uma mistura, membros de coletivos, público da banda que apoia a diversidade, ativistas dos movimentos de moradores de rua e de mulheres que se sentem fortalecidas pela letra forte e pela conquista de uma nova cena inclusiva. "Falta no Rolê Punk e Hardcore pessoas negras como a gente vê nos shows do Black Pantera, mesmo sabendo que em Santa Catarina predomina a galera ostentação e dos playboys, e assim somos a alternativa." "Nunca tocamos em Itajaí nossa cidade natal, mas já esta nos planos pós-pandemia." fala Tamy.  

Rocha define a Pandemia como covid-17 em alusão ao presidente fascista que se elegeu sob esse número com a falta de informação, fakenews, burrice coletiva ou má intenção, e a negação da politica com apoio da mídia comercial. O Ativismo de professor é muitas vezes mostrar a incoerência dentro do setor de educação alvo de perdas e ataques, mas ainda muito desinformado.

Tamy é Psicóloga e fala que o debate sobre a Diversidade é prejudicado pelo pré-conceito e desconhecimento da realidade, dentro dos espaços acadêmicos de formação profissional e nas unidades públicas de assistência de gênero. Vê perdas de programas, políticas públicas e desinteresse por palestras que levam informação aos jovens e isso é fonte de inspiração para letras de suas músicas. Paolo lembra que “Balneário é uma Cidade conservadora a luz do sol e a luz da Lua é Libertina!” completa Tamy: “O conservadorismo não dá conta de sustentar o discurso...um paradoxo!”

“Atravessar no meio” Rocha fala da escalada do fascismo! Era só discurso interno, namoradinha, agora a repercussão está na rua, na prática. A fala do (arquétipo) imbecil poderoso: Pesar negro em arroba, filho gay na porrada, copo de leite, cavalo, Mussolini, os 300, que virou 30, para-militarismo. Imagina se a gente vai lá com arma, ia tomar bala. É um processo de institucionalização do Fascismo, de discurso a pratica, se o Bolsonaro vai dar o golpe ou não, é imponderável, não dá pra saber. Mas dá pra ver que ele quer, tem tara, é a quebra, a ruptura. Mas não é o fato da esquerda ir pra rua que vai determinar isso, se for criminalizada por isso não é verdade, Se Bolsonaro der o Golpe é porque quis. Em porto Alegre a galera está fazendo recuar, um exemplo claro do fascismo é a criminalização dos movimentos antifascista, outro é a perseguição do deputado Douglas dando voz a grupos de carecas e movimentos fascistas nacionalista, fazendo lista de pessoas e bandas Antifascistas, que recebeu de carecas da pseudo cena rock. “e nós estamos na porra desta lista”, isso mostra como estão alinhados nos ideais, na politica em atitudes de perseguição. Mas as verdadeiras organizações criminosas são as que agridem negros, mulheres, Lgbts, em SP, em Curitiba, mortes, crimes, espancamentos e perseguição, são poucos, mas é com quem Bolsonaro esta se aliando.

Eu tenho uma inserção dentro do sindicalismo orgânico. Rocha fala que isso faz pensar que é um militante. “Defendo a ideia que as pessoas se organizem, em 2013 as pessoas eram muito ativas e acredito oque fez o movimento ter desvirtuado foi do horizontalismo que não sou partidário, as organizações são importantes para organizar o ativismo, não deve ser espontâneo, tem que ter uma estratégia, um objetivo. "Isso aqui vai resultar em que dê positivo pra luta? Vai trazer resultado? Não? ...Há vamos Quebrar...Qual o objetivo? Qual o resultado?  Vai ter! ...então vamos fazer organizado, discutido coletivamente, e com base numa teoria revolucionária, que não seja só para ter impacto midiático, ou se for, que seja esse o objetivo. Em fim o ativismo deve estar ligado a militância organizada com base teórica e decisão coletiva."
Tamy tem uma veia de ação direta, anarquista, mas se considera comunista. Quando ingressou no mundo das políticas públicas fez se sentir totalmente comunista, começou a ver como as coisas devem funcionar de fato, "sou feminista classista, participo de um coletivo de esquerda, a importância as práxis e da teoria para não fazer as coisas na loucura."
Paolo diz que o ativismo e militância têm que estar juntas, para o ativismo ser assertivo, tem que ter teoria e militância e além do conhecimento daquilo que se leva a paixão pela luta e lutar. Ser trabalhador é lutar pela classe trabalhadora, e as vezes a paixão leva a militância ações mais espontâneas do que estudadas. Ate onde esses movimentos que estão surgindo agora são benéficos? Tudo tem que ser baseado numa teoria assertiva, conhecida e que a gente sabe que já foi experimentada.

Rocha acha que esta na hora dos coletivos e que os partidos precisam voltar aos trabalhos de base, com movimentos sociais e identitários. "Aposto numa nova organização partidária para o protagonismo de esquerda no País". Paolo pensa nos movimento e coletivos acrescentando dentro dos partidos de esquerda.

Tamy fala do genocídio da população negra, e acredita que mesmo com a pandemia devemos ir as ruas como resistência "é o mínimo que se pode fazer." Rocha fala das reações a morte de George Floyd e segue a linha da Tamy por entender que a pandemia fez explodir a desigualdade racial e fez a pressão social estourou no EUA. Paolo diz que tá entrando em cheque os alicerceies da violência dentro no capitalismo, de gênero, de classe e de raça. "Estas reações é um ponto de ruptura com capitalismo." Tamy: Não tem como resolver o racismo se não for pela luta de classes, porque é a desigualdade social que cria isso. Não vai resolver o racismo pedindo pras pessoas não ter preconceito enquanto o negro estiver nas periferias, estiver dentro dos presídios, e sendo assassinado pela policia,  se não focar no viés de classe,  e ficar só romantizando, "Ai! Não vamos mais ter preconceito" Assim a gente não vai resolver esse problema!.

Revolução: Paolo: Estude, estude e estude. Tamy: Teoria, Ação, Luta de Classe. Rocha: Socialismo ou barbárie.

O melhor trabalho do mundo é pizzaiolo...rs, diz Rocha. A Tamy diz que tem pessoa na sociedade que não vê no trabalho uma atividade prazerosa, é como uma recompensa! "Eu luto para que meu trabalho um dia não exista" "Assistência social à pessoas em situação de vulnerabilidade."
Eu gosto do que faço na logística, mas gosto mais de dar aula, mesmo nos momentos de arrancar os cabelos ou pular do prédio, morrer. Tentar levar coisas legais pra juventude, nem sempre a gente consegue, mas trabalhar na educação é bom.

O sonho é conseguir gravar a com o baterista Rocha na Rino Records e ele na produção.
Viajar com a banda, levar a mensagem da ataque pra longe, tornar nosso som mais acessível e inclusivo, conhecer uma galera massa, Viajar, tocar com outras bandas é aparte boa, assim como o Rocha é um exemplo de uma amizade da estrada.
Rocha diz: O meu sonho é minha cachaça! Do it yourself! Se eu pudesse viver disso eu viveria. Dá muito prazer, cobrar é até esquecido as vezes, porque é um sonho. Uma coisa que é Legal, tem a ver com a alienação, o processo de produção não estão alienados do trabalho, os meios de produção são nossos, não tem essa de entregar na mão de terceiros. A gente produz.

A mensagem é: "Não desiste de nós!" Tem a Priscila que falamos pouco, mas ela toca vários instrumentos e tem conhecimento de música e formação, ela é quem manja de música pra caramba, é gente finíssima, na banda toca baixo. Eu toco guitarra e toco aquele som da banda, e tento alinhar isso a questão teórica e práxis, trazer para arte o conhecimento do mundo e da formação. "É importante para cena underground ver menos metaleiros e roqueiros fascistas."

Tamy diz: Organizem-se! A gente curti muito a cena, é legal fazer som, mas não é o suficiente, ocupar outros espaços além desses, coletivos e conselho, entender oque esta acontecendo na região, fazer parte da politica, mesmo que a gente tenha aversão a algumas coisas. A gente tem que participar de outros espaços, pra gente não ficar resumido só a cena e achar que é suficiente subir no palco, ter uma banda... e não é! Devemos ser ativos em outros espaços também!

Rocha diz: Além de tudo isso, metam a cara, experimentem, aprendam sobre produção musical, no mais, bebam água.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

"Mulher" - Tamy / Ataq Coletivo


"Mulher" - Tamy / Ataq Coletivo 


É como se existíssemos apenas pro prazer masculino
É como ter as nossas vidas controladas pelo seu sadismo
É ter que sentir na própria pele a navalha da sua língua
Do seu julgamento capaz de destruir vidas 

E renegar as próprias filhas
E renegar as próprias filhas 

É ter aval pra abandonar o próprio sangue e seguir em frente
Sem ninguém pra te julgar ou desejar a sua morte
No fim das contas sobra pra alguma mulher que sustente
A culpa é sempre nossa por acreditar em homens hipócritas 

Meu corpo não me pertence
Desde que eu me conheço por gente 

Se não sou sua sou vadia, sou puta, sou piranha, incubadora idiota
Sou um corpo vazio, pronto pra parir, é assim que sou vista
Ou apenas um buraco pra fungar o teu nariz e derramar o teu esperma em alguma esquina 

Mais uma prostituta morta
Mais uma trans assassinada
Mais uma dona de casa espancada
Mais uma pobre sangrando nas escadas 

Se renego o feto que é sagrado eu mereço a morte
Não importa quem seja o pai, fui eu quem quis brincar com a sorte
Em cada esquina se esvai uma vida num aborto clandestino
O sangue também escorre pelas vilas numa agulha ensanguentada 

Nas ruas não se ouvem mais risadas
Morreu mais uma assassinada 

Até parece o nosso destino cravado no peito desde a infância
Ser louca ser puta, desvairada ou morta
Pelas mãos de quem jurou que te amava 

Por ser mulher minha vida não vale nada
Pro machismo eu já nasci morta.


quinta-feira, 4 de junho de 2020

Oh! Glória.


















Oh! Glória. - por Sylvio Neto - Imagem: Quadro "Pipas cruzando" de Ivan Cruz



- Seu Antônio, me vê duas pipas por favor 

- Ta na mão...Vai levar linha e cerol, dona Lina? 

- Vou sim seu Antônio...O Leozinho e o pai vão soltar pipa hoje...É que hoje é folga dele...Leozinho é uma animação só. 

- Tá aqui...óh...A melhor pipa do bairro...E tem carimbo e tudo, olha ahí...Tonho de Deus, Rei das Pipas.... Glória deus, é só benção. 


Falou e mostrou orgulhoso o carimbo que havia mandado fazer dias antes, o Tonho de Deus Rei das Pipas. Antônio Dias Carpo de Jesus, 49 anos, caucasiano, natural de Santa Catarina, filho de agricultores católicos, descendentes diretos de Italianos, radicados no Estado desde o século XIX., não foi sempre, o Tonho, de Deus. 


Desde o final de sua adolescência que gabava-se de seu ateísmo, de sua controversa e dedicada vocação comunista. Durante toda a infância fora pressionado pelos pais e avós a ler a bíblia e a freqüentar as missas. Fora prometido a Padre Giulliano, desde o batismo, seria sacristão e na graça de deus, padre de seminário. E por tal missão ardia em trabalhos diários na capela que, fora construída nas terras do Coronel Justino, local onde seus avós eram meeiros. 


Aos quatorze anos fugiu dos olhos dos pais e parentes, que ficaram atormentados sem saber o que lhe havia acontecido, andava à época, por aquelas bandas, um circo de ciganos e uma onça que perturbava o juízo dos capatazes da fazenda, sumindo com gado bovino miúdo e galinhas. 

- larguei o pé pelas mata, logo de noitinha depois que mãe apagou a lamparina, peguei de pé na noite toda, até a rodovia. Cheguei lá já era de manhãzinha, sentei na beira, abri a sacola e peguei um dos pedaço de bolo que levei pra viagem...Não senti nem o cansaço, só a fome...Fome de mundo, fome de liberdade, fome de ser comigo e por mim mermo. 


Fui assim, de estalo, com pouca roupa, o canivete, umas laranja, pão, tapioca, farofa de aipim e os pedaço de bolo que tinha economizado dos café da manhã...Só isso e corage, vontade de ver o mundão...Agora eu era dono de meu destino... 


Que deus, que padre, que igreja que nada. 


Antônio, falava com a emoção dos seus quatorze anos. Toda a igreja calada o ouvia atenta neste seu testemunho emocionado – um testemunho de sua transformação no sangue de cristo. 


Em casa, Leozinho e o pai se preparavam para soltar pipa. Era domingão de sol, dia lindo e iluminado...Na quinta, quando Lina chegou com a pipa , o cerol e a linha em casa, Eduardo já estava pronto para sair, fora chamado as pressas pelo delegado Romão, chefe de sua equipe, na DAS – Delegacia Anti Seqüestro, haviam recebido uma dica de onde estaria caindo o estuprador da calcinha amarela, o perigoso e sanguinário estuprador que após torturar e estuprar suas vitimas, deixava-as vestidas apenas com uma calcinha amarela. 


A dica era quente e era uma chance de tirar o Secretário Estadual de Segurança Pública, o Chefe de Polícia Civil, a imprensa e a sociedade de seus calcanhares (de Aquiles), e do da delegacia, a folga ficaria para domingo...Tanto melhor pensou... 


Mas Leozinho, de 5 anos, ficou inconsolável, estava de férias na escolinha e tinha muito pouco tempo com o pai que dividia-se em plantões, expedientes, investigações e emergências tais quais a que por hora se entregaria. 



Na venda de Tonho de Deus, seus filhos, Olga, de 22 anos brincava com o sobrinho Kaíque, de 3 anos, filho de Olívia, de 16 que ajudava, Luis Carlos de 13 a pendurar as pipas na parede. Todos estavam meio apreensivos pois Lênin, de 24 anos, o mais velho e problemático dos quatro, não aparecia em casa desde quarta feira a noite. 


- andando pela estrada sem saber o rumo nem direção, já até pras hora de sol a pino no meio do céu, um caminhão passou e fez buzina...Corrí, peguei da cara na janela e perguntei, vai carona?, o motorista riu e perguntou pra onde eu ia...Eu respondi pra ele bem assim...Vou pro mundo...ele riu de novo e me mandou subir. Não perguntou nem meu nome e já foi me oferecendo um cigarro e um gole de cana. 

Nem me lembro direito a hora que paramos e do que aconteceu naquelas horas, estava já meio tonto daquele cigarro esquisito e da cana. Acordei pelado numa cama com várias mulheres, mais velhas que eu...O quarto era pequeno, tinha cheiro de cigarro, aguardente e roupa suja. O motorista estava também trançado no meio de três mulheres, contei e ao todo tinha umas seis ou sete mulhé. 

Porta trancada, janela com uma cortina de chita barata, fui ao banheiro que era uma fedentina só e tomei o primeiro banho de minha liberdade. 

Dali, seguimos para São Paulo e minha emoção não dava lugar a nada...Fumamos outros cigarros, bebemos outros goles, paramos em outros casas em outros postos, em outros bares e em outros ares com e sem luz vermelha. De São Paulo fomos ao Paraná, do Paraná a Goiás de Goiás pra outro canto e de canto em canto, foram dois anos de estrada, parada, trabalho, suor e prazer... 

Nesse ponto da vida eu já ia fazer 17 anos e já fumava maconha e bebia como um adulto, já pilotava o caminhão, de meu compadre Arthur, que não andava bem de saúde...Arthur além da maconha e da cachaça também tomava uns comprimidos que não me deixava chegar perto – depois vim a saber que era optalidon – Por conta das dores constantes no peito e nas pernas, passamos a trabalhar mais em São Paulo, é que tamém o caminhão já não era mais aquelas coisas mermo. 


Percebendo a disposição e bem estar de Eduardo, Lina resolveu arriscar uma pergunta, Eduardo odiava a falar do trabalho em casa. E então Edu, conseguiram prender o tarado? Não, respondeu Edu...Mas ele não vai mas muito longe não...Deu mole lá pros lados da zona Oeste e acho que a milícia o pegou. Não quero nem pensar nisso hoje, hoje o negócio é pipaaaaaa...Agarrando-a pela cintura em um beijo, que Leozinho, logo chiou...Pai vamo, vamo logo pai. Riram e Edu pegou o menino pelos braços e jogou-o ao ar. Ta legal, vamos passar cerol e cortar geral, disse: - cuidado rapaziada, se cuida que chegou o cerol fininho. 


Na venda, com os olhos esbugalhados, ao telefone, Olga balbucia: mas meu deus. Como isso foi acontecer, meu deus. Ai, moço, o que é que eu faço? Ai Olívia, ai Luizinho...Mataram nosso irmão, meu deus...ai mataram o Lênin, mataram o Lênin, meu deus. Luis, corre lá na Divina Rama e chama o papai...Pega a moto Luizinho vai rápido, falou nervosa anotando de forma inconsciente alguns dados que lhe eram passados pelo telefone...Sei, sei...Mas moço pra que roupa? O que? de calcinha? Ai meu deus que foi que fizeram com meu irmãozinho, ai meu deus. 


- filhão, vamos arrastar aquela pipa amarela ali? 

- Vamo pai, corta ela papai 

- Não foge não é o cerol, é o cerol...ah ah ah.... 

- Pai, pai cuidado com o menino na moto pai 

- Ai meu deus, ai meu deus o que foi que eu fiz meu deus? Ajuda aqui, ajuda...Chamem uma ambulância, rápido, chamem uma ambulância rápido por favor... 


As portas da Igreja da Divina Rama e Graça, o apóstolo Íago junto a esposa, missionária Eliane, despede-se dos fiéis dizendo: - que domingo glorioso, que domingo de graça e luz, que lindo e belo testemunho Antonio, que benção tê-lo aqui, conosco, vá com com deus, amado. 


Vindo a seu encontro e vendo que os fiéis já haviam se dispersado, o diácono Paulo, diz: apóstolo, que benção, hoje a arrecadação bateu nosso recorde e olha que são apenas 9 meses de portas abertas para o senhor. 

Quanto foi Paulo?. Mil e trezentos reais em dinheiro e mais este cheque de trezentos e vinte e cinco reais, apóstolo, mil – e – seiscentos – e – vin-te – cin- co - re-aissssss, respondeu sibilante...Que ótimo, com o cheque a gente cobre a conta da igreja que tá negativa, com o dinheiro a gente paga a nota dos instrumentos e ainda sobra algum...Ta duro? 


- sabe Tonho, a melhor coisa que a gente fizemo, depois de enterrar o compadre, foi eu pedir as conta da fábrica, você vender aquele bar amaldiçoado, pegar nossas crianças e vir mesmo aqui pro Rio, sabe...Assim, você largô de vez o vício, a bebida, o cartiado, as mulhé da vida...Entregou o coração pra Jesus...Viu como tá dando tudo certo? A venda vai bem, tu ta danado nas venda de pipa e cerol...A gente mora qui a tão pouco tempo e já tem freguesia, nas verdura, nas galinha. 

- E nas pipa né Marta...No cerol 

- Sabe não sei como eu fiquei tanto tempo naquela vida 

- Se você num fosse da vida, agente não tinha se conhecido, né? O que vale é o hoje, amanhã é de deus e nós somos de deus 

- É meu velho...E tem também o caso do Lênin...Lá ele não ia se endireitar...Viu como ele tem andado calmo? Vendeu o revolve...Que benção 

- É mulhé...É o nosso senhor operando



terça-feira, 2 de junho de 2020

# Parem de nos matar


















Vai ser preciso repetir por muito tempo que nosso racismo é estrutural, que o povo preto não tem voz, que a raça e o credo não são livres, somos oprimidos e mortos pela sociedade exatamente por isso, as leis e o estado são as ferramentas de morte, a impressão que temos voz após assassinatos é falsa, quando vamos as ruas expor nossa dor e indignação, entra em ação ameaças, repressão, tiros e bombas e senão ouvimos é porque o som silencioso do fascismo impondo medo contra atos pacíficos e legítimos.

Na Paulista a PM protegeu os fascistas e foi em direção a torcida Antifa, na praia de Copacabana a repressão foi tomar faixas e ameaçar a torcida Antifa, em Porto Alegre domingo tudo tranquilo, na segunda em Curitiba novamente bombas, em Cabo Frio foi mantido o distanciamento, máscaras e as falas e as palavras de ordem, cartazes, faixas cumpriam a rigor regras pra um ato público, mas a PM pediu para encerrar o ato sem dar justificativa...