segunda-feira, 8 de junho de 2020

"Mulher" - Tamy / Ataq Coletivo


"Mulher" - Tamy / Ataq Coletivo 


É como se existíssemos apenas pro prazer masculino
É como ter as nossas vidas controladas pelo seu sadismo
É ter que sentir na própria pele a navalha da sua língua
Do seu julgamento capaz de destruir vidas 

E renegar as próprias filhas
E renegar as próprias filhas 

É ter aval pra abandonar o próprio sangue e seguir em frente
Sem ninguém pra te julgar ou desejar a sua morte
No fim das contas sobra pra alguma mulher que sustente
A culpa é sempre nossa por acreditar em homens hipócritas 

Meu corpo não me pertence
Desde que eu me conheço por gente 

Se não sou sua sou vadia, sou puta, sou piranha, incubadora idiota
Sou um corpo vazio, pronto pra parir, é assim que sou vista
Ou apenas um buraco pra fungar o teu nariz e derramar o teu esperma em alguma esquina 

Mais uma prostituta morta
Mais uma trans assassinada
Mais uma dona de casa espancada
Mais uma pobre sangrando nas escadas 

Se renego o feto que é sagrado eu mereço a morte
Não importa quem seja o pai, fui eu quem quis brincar com a sorte
Em cada esquina se esvai uma vida num aborto clandestino
O sangue também escorre pelas vilas numa agulha ensanguentada 

Nas ruas não se ouvem mais risadas
Morreu mais uma assassinada 

Até parece o nosso destino cravado no peito desde a infância
Ser louca ser puta, desvairada ou morta
Pelas mãos de quem jurou que te amava 

Por ser mulher minha vida não vale nada
Pro machismo eu já nasci morta.


Nenhum comentário: