segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Chiquinhos

 


Chiquinhos - por Isac Machado de Moura



Eu estou MUITÍSSIMO encantado com a carta encíclica FRATELLI TUTTI, do papa Chiquinho. 

Ainda não terminei a leitura. Estou sorvendo devagar cada tópico, como quem ler os evangelhos de/sobre Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, vou sentindo uma tristeza danada, porque a religião de Francisco não pode ser a mesma dos católicos que odeiam, dos padres que pedófilam, da Igreja do sino de seis milhões, em Goiás, dos católicos do cercadinho ou dos manzottis que negociam a fé por concessão de rádio e TV. 

A FRATELLI TUTTI tem sabor de tutti-frutti, tem cheiro mais de coexistência que de tolerância, tem as cores de Júlio Lancellotti pelas ruas de São Paulo. Leio e paro e penso e releio e suspiro. Essa carta encíclica resume a espiritualidade de Jesus, focada no outro, o encontro de um samaritano (um palestino de hoje) com um judeu ferido; o encontro do pastor Kléber Lucas com o babalawo Ivanir dos Santos; o encontro do padre Lancelotti com cada morador em situação de rua de sua comunidade; um grupo de evangélicos com um grupo da Umbanda ou do Candomblé para ajudar na reconstrução de um terreiro destruído. 

A FRATELLI TUTTI seria, se os católicos brasileiros vivessem a religião de Francisco, um pedido de perdão; um religare; um foi mal aí por toda uma história de opressão; um arrependimento das alas que, junto aos evangélicos fundamentalistas, apoiam incondicionalmente esse governo de morte e suas atitudes anti-evangelho, anti-Cristo, anti-Francisco. 

A FRATELLI TUTTI é um abraço planetário na humanidade, o respeito a cada cultura, a cada grupo religioso. É a encíclica de dois Franciscos, o de Assis e o latinoamericano no Vaticano. A FRATELLI TUTTI é um resumo dos evangelhos de Jesus. Gostaria muito que cada católico lesse a FRATELLI TUTTI. Ela é tão clara e tão simples e tão pés no chão, que nem precisa de um dicionário ou de um vaticanista para ser esclarecida, entendida. 

Mas que essa leitura não fosse feita como fazem evangélicos e católicos diante de Coríntios 13, que leem, recitam, mas não praticam, apenas usam como amuleto, da mesma forma equivocada que fazem com alguns salmos, cujas páginas amarelam de tanta exposição. Deixam a Bíblia aberta em um deles, mas não se abrem para ele. Simplesmente usam como se fosse uma carranca do Rio São Francisco ou uma ferradura atrás da porta. 

São dois extremos, na verdade: a FRATELLI TUTTI e o manual segregacionista cheio de ódio dos católicos de bolsonaro. A FRATELLI TUTTI é um texto para todos os católicos, para todos os cristãos, para todos os humanos. É SOBRE A FRATERNIDADE E A AMIZADE SOCIAL. Não é sobre liturgias, é sobre o amor, o cuidado, a espiritualidade do Cristo, o seu carinho irrestrito com todas e todos. 

Que venha sobre nós todos e todas, sobre católicos e evangélicos, sobre toda a espécie humana as bênçãos da FRATELLI TUTTI, e que a partir de nós se estendam para as outras espécies, para as outras formas de vida, para o nosso país em chamas desse fogo dezessete, cujo fósforo primeiro foi riscado por cristãos evangélicos e católicos, que seguem alimentando tais chamas com ações ou omissões. 

FRATELLI TUTTI.

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