domingo, 20 de setembro de 2020

Escuta

 

Escuta - por Zélder Reis


Salve companheiro, chegou na boa

Pessoa de paz, na escuta que ressoa

Atenção, empatia, a luta continua, não é toa

A vida ainda tem sentido, caminhar na chuva ou na calçada aglomerada

A boca fala do que o coração tá cheio, mas prefiro a boca mascarada

 

Minhas fotos falam de mim, no face sempre sou alegre e descolado

Se eu sumir é por que tô bolado, um aperto no peito nem falo

Se chamam de depressão eu chamo de interditado

Cancela, lacra no ponto final, se for perguntar onde doi?

E se eu não souber responder, será que vai entender? Não faz mal.

 

Um passo, depois do outro, passo. Tô tentando contar

Di novo tô tentando, tentando, tentando, tentando

Tem sempre um gatilho, falta comida, falta emprego

Não tem remédio pra esse desassossego?

Gatilho sempre me empurrando pro escuro, duvido, não creio não durmo

Só alívio no som, bem alto, a tempo todo, bem alto, nem quero, bem alto

Se tá mimimi? bem alto, explode os miolos, bem alto, pula da ponte bem alto.

 

Não tem final feliz, as manas atriz, os manos um triz e você me diz

Porque que tenho que ser feliz? Vida viva amor brincadeira eles se amaram

de qualquer maneira, de qualquer maneira, de qualquer maneira.


Vale o espanto, vale me perguntar...é sua depressão ou sua prevenção?

Digo: não é nóia, não é poesia, um grito de amor não é covardia ou me falta dor ou empatia?

só passando pra te dar um alô, coisa que falta é amor, pra que serve a porra do celular?

Então liga pra alguém se escutar, fica calado dá o ouvido assustado não vira pro lado. Amem.


Um comentário:

Sylvio Neto disse...

Há dias de euphoria
Absurda e ininteligivel alegria
Um bota fora
Toma, toma e toma
De tudo que sou eu

Há dias de absorta contemplação
Algum silêncio nada contra ou a favor
Nadica de sim e de não
Somente só, com as coisas da nente e alguma distância do mundo

Alguns dias, e grafa-se assim, posto que é grave, grave isso - de muito ódio
Ódio contra a impotência em esganar bolsonaro e pô-lo, a chorar numa cadeia lá no fundo do mais fundo poço
Ódio contra os fascistas, contra os amigos artistas que concordam, em andar na rua, desse lado
Ódio contra tudo que nao quero, que nao me faz rir e feliz

E quem faz?

Ódio que começa pelo nariz, olhos e bôca
Ódio na cabeça, tronco e membros

E há dias, de nadica de nada
Dias sem fala e com amor ao escuro e protetor quarto, dia que desdobra-se em vários dias sem fome, sede, asseio...
Dias e mais dias de querer não ser
Dias e mais dias aguindo do corpo, da mente coragem, cadê você?

Que nao se resolve, descansar, na noumenalidade do não ser...

Meu dia hoje é um mix de nao querer ser e falar com o dia de contemplar

Há se houvessem dias de falas no celular, há se houvessem dias de vontade de conversas longas, risos provocando vontade de viver

Vontade de amanhã, quando nasce no dia que nos levanta, é o dia da euphoria e neste
Nunca é vadia a vida vazia

Que em meus dias de voo solo
Me agarre com a força do coração
Qualquer irmão, que vibra
Qualquer irmão, que imana a força humana de amar

Dividir e doar

Que estejas sempre perto, um anjo
Sylvio Neto