terça-feira, 4 de agosto de 2020

Nesse Novo Normal




Nesse novo normal - por Isac Machado de Moura 


E, enfim, estamos retornando com tudo para esse "NOVO NORMAL". E nesse NOVO NORMAL, perto de 1000 pessoas morrem todos os dias, só por covid-19.

E DAÍ? O que isso importa? TODO MUNDO MORRE UM DIA. Se nenhum dos 1000 mortos diários é um parente ou um amigo muito chegado, que importa? É o NOVO NORMAL.

Nesse NOVO NORMAL não cabe frescuras como EMPATIA ou COMPAIXÃO. Nesse novo normal se compartilha notícias de morte sorrindo. O que importa é a reabertura dos shoppings, dos templos, das escolas, por que não? "Crianças, adolescentes e jovens são assintomáticos, não são?" Então. Que abram as escolas. Quem se preocupa com a professora, com o professor, com a tia ou o tio da merenda, da limpeza, da administração, com a equipe gestora, pedagógica, com o pessoal de manutenção? E com os velhinhos das casas dos estudantes? Nesse NOVO NORMAL, "quanto menos somos, melhor passamos".

Desejava-se a morte de pelo menos UNS 30 MIL, já estamos chegando a 100 MIL pelos números oficiais. No NOVO NORMAL brasileiro, na contramão da ciência planetária, tem fartura de Cloroquina e "remédio de verme" para combater um vírus com o qual cientistas perdem tempo ao invés de vermifugar e cloroquinar todo mundo. E é um verme que anuncia a cloroquina até para animais, como o gado do país e as emas do palácio. As emas recusam.

Contra o verme, o melhor remédio se chama voto, mas nesse NOVO NORMAL, as igrejas pertencem ao verme, e isso quer dizer que enquanto os púlpitos de igrejas forem palanques eleitoreiros, sempre haverá um verme no poder. É uma nova política, com centrão e tudo; é uma nova igreja, disseminando mentiras e ódios; é um novo normal; é uma nova promoção eleitoral/presidencial em que se elege um presidente e se ganha mais três; é vereador com gabinete em Brasília; é a presidência com um gabinete de ódio em quase toda igreja evangélica, outros na Canção, outros no Manzotti.

Nesse NOVO NORMAL, as igrejas milagrentas precisam se reunir presencialmente para promover sessões de cura da covid, porque à distância, sem dinheiro rolando como no presencial, os bispos curadosos não conseguem.

Nesse NOVO NORMAL, um pastor-cantor da Assembleia de Deus faz live xingando ministro do STF, ameaçando, bufando, falando palavrões, possuído, e a cúpula assembleiana SILENCIA.

Nesse NOVO NORMAL, uma cantora-pastora da Assembleia de Deus faz clipe enaltecendo a violência doméstica; 

Nesse NOVO NORMAL, um pastor deputado da Assembleia de Deus faz um tratamento dentário de 150 mil reais com dinheiro público.

Nesse NOVO NORMAL, um pastor presbiteriano assume o ministério da injustiça e manda fazer ou, pelo menos, aplaude quem faz dossiê de servidores antifascistas, mas covarde que é, não assume, assim como o seu profeta.

Nesse NOVO NORMAL, um crente batista é indicado para o Ministério da Educação, mas mente tanto, que nem assume, e é substituído por um pastor presbiteriano que defende a educação pela dor. Mas esse é branco, pode até mentir livremente.

Nesse NOVO NORMAL, se anuncia publicamente a passagem da boiada em direção a ex-floresta, e fica tudo bem.

Nesse NOVO NORMAL, um general é ministro da saúde em tempos de pandemia, e exatamente como foi na ditadura, esse general pós ditadura tem como meta matar e ocultar números e até cadáveres, se preciso. É a especialidade da casa. Enfim, 1000 mortes por dia.

E ontem a imprensa vem me falar de uma tragédia no Paraná com 8 mortes, oito. Que tragédia tem "apenas" oito mortos nesse novo normal? 1008 seria um número razoável, aceitável para se noticiar como uma tragediazinha. Eu sou das antigas.

Esse NOVO NORMAL não dá pra mim não. Eu sinto as dores do mundo. Cada lote humano de mil que perdemos por dia me apavora. Os oito do Paraná me apavoram. Os meninos e a menina de Paraisópolis me apavoram. O músico preto vítima de 80 tiros do exército impune e assassino me apavora. Não estou cabendo nesse novo normal.

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