domingo, 2 de agosto de 2020

Carta à Gioconda e Mensagem de ontem, à Gioconda



CARTA À GIOCONDA - Por Sylvio Neto

“Tocar na afetividade feminina

– feliz acidente de percurso do domínio masculino – quer dizer se aproximar dos sussurros intermináveis das coisas.

Walter Von Rossum

Penedo, RJ, 22 Jul 20

Querida menina (que insistirei tratar por Castor, comparando-a, a Simone de Beauvoir, enquanto não for isso desagradável para ti),

O que você quer que eu faça, ainda? Se já traí a mim, nas convicções que criei e espargi com alarde.

Sinto dor por isso – não menor é claro que a excitação deste nosso negócio. Traindo, também estou um amigo (e por isso disse que traía a mim) – E tento enfim convencer-me, diante de tuas palavras e argumentos, e também de minha própria vontade e do desejo que se forma a partir dela, que é preciso – O mundo se deixou dominar com a energia destrutiva da vontade – A vontade é a verdade. Por que então, salvá-lo, se já é perdido em querer?

Não há medo em minha ação. Nem arrependimento. Só a certeza da traição. Será erro? Buscando ser perspicaz até o fim e não encucar com o belo: “Eu tenho me morrido lentamente. Até reagir num súbito instante, pulsando vida. Até novo morrer lento” .

O que nos tornou tão atraentes? Será o simulacro pseudo-intelectual de nossa conversa afiada e distante? Ou o tom excitante que dilacera, meu instante?

Estou comovido e convencido. Também quero este momento: E não se perca em pensar que sou ou serei apenas sério e sincero, pois que, não me sai da cabeça que lateja a tua testa molhada, a todo instante.


Paz Profunda

Sylvio Neto

(Se tu é Castor, serei eu, teu Sartre)



MENSAGEM DE ONTEM: À GIOCONDA

Acordo hoje e levanto-me cheio das possibilidades que a vida oferece. Há agora, nesta manhã fresca grande, enorme e clara das 07:40, um sol vigoroso querendo ser o rei do dia

E me invade e toma a atenção a marcha linda, que divido com o sol da manhã na qual vão se incorporando vagarosamente e de forma non sense um a um o mosaico enorme de instrumentos de uma sinfônica

É o Bolero de Ravel guiando a dança os passos, trajeitos, piruetas

É o Ballet du XX Siecle, com Maurice Bejart, dançando esse Bolero de Ravel, que durante toda a noite ficou em dowload, para dar-nos (aguarde ainda um tanto, quem sabe um canto) nesta manhã os movimentos simétricos, ora leves, ora marciais de Maurice Bejart...tan tan tan tan...tan tan tan tan taaaaan....tan tan tan tanarárá...tanaráaa .

É muito lindo...Muito mesmo...

Parece você envolta em palavras escolhidas a desafiar rápida o teclado em conversa no msn, parece teu rosto cândido, pálido branco, bonito a definir-se ante a paisagem menor

Parece meu sentimento e alegria em te oferecer um poema

E o filme que ainda não desceu mais do que 2%, vai ficando para depois. Creio que durante a marugada a conexão caiu.

Mas vem ele aos poucos. Quem sabe chega todo até o fim do dia ou da semana?

Bom dia

Teu poeta,

Com amor

Duílio Egon


(Por Sylvio Neto)

Um comentário:

Unknown disse...

Há os que na capacidade, tem a luz tal a de Alvarez de Azevedo, na eterna busca de sua amada - não que ele possa ser comparado ou copiado

Eu tento seguir o fio da navalha, de meu entendimento daquela poesia potente, daquele Lira de Ouro: Eu tento...
Bjs!