segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Militância e Metal – Spectrum




Militância e Metal – Spectrum do Christiano Guerra - Por Zélder Reis - 
Foto - Ilcio Arvellos



O metal é resistência, tem ai o Carlos Vândalo, Marcelo Pompeu, a Rock Press batalhando. A Sprectrum é o desejo de fazer o Metal Brasileiro sem copiar ninguém, eu sempre fui assim. Meus amigos ficavam olhando no espelho e dizendo “essa sobrancelha é igual a do Axel Rose”, mas eu falava que loucura é essa? Pode gostar, mas querer parecer com o cara? Em 2015 quando estava acabando a turnê do Mojo, disco de Blues rock da Christiano Guerra Band, eu decidi com Ludmila (produtora / esposa) colocar (Spectrum) pra fora de maneira simples, lançamos o Facebook, comecei a gravar, e a ideia era que fosse orgânico. “A Spectrum veio disso, desse espectro que eu precisei fazer pra poder ser quem eu sou” Aprendi tudo fazendo Blues Rock, mas eu precisava falar de outra forma. Vivemos cenas pesadas na história do nosso país, voltamos ao metal, e ai desenvolvi essa linguagem, ficou um tempo nos bastidores, montei a primeira formação, mas ainda não me agradava, me forçava a beber em fontes que eu não me sentia bem, amo o Rock and Roll Inglês, Americano, Alemão, mas sempre me ligo nos brasileiros, me atraiam mais porque queriam criar uma linguagem brasileira, diferente do tropicalismo. Encontrei no Carlos Vândalo uma referencia de fazer além da banda, me ensinou através da arte dele, a fazer música sem depender de banda, sem depender de outros, que você se torne completo pra que outras pessoas possam se unir a você e ai sim criar. 



O nome Spectrum é só uma aresta, a música é o meu lugar, eu não tenho rótulo, a não ser oque a imagem da minha vida demonstre, eu usei não espectro do fantasma, usei oque lida com cores, luz, transformação, e escrever com “U e M” no final. Hoje vemos as pessoas querendo vender a coisa completa, perfeita, eu quero que seja em construção. A Ludmila lançou “na borda” (primeira música e a mais arrastada) e as pessoas descobriram e está essa “bagunça” toda. Na época a gente estava vivendo uma situação onde a mulher estava sendo vilipendiada diretamente, a Presidente da Republica ou dentro da casa fechada, o machista já estava batendo, não só quando estava bêbado dentro de casa, mas também xingando a presidente, achei tudo tão absurdo, independente de lado politico, optei pelo (som) mais fúnebre, lento e pesado. Eu queria ver onde isso dava, foi quando apareceu o Doom e descobrir que ele era essa forma que eu queria. 



Eu cansei dessa conotação do som Sabbath, até porque não foi a principal influência, claro que ouvindo “Master of Reality” vendo a essência de riffs arrastados era o intuito, mas já ouvia os caras da Suécia, Finlândia. A Banda Reverend Bizarre foi principal estopim, musicas de 23 minutos, riffs entendidos longos, contando estórias da idade média, mas não fechamos a ideia ainda e estamos numa rotina de estudo, de conhecimento. Música sem conhecimento é muito triste, é propagar no Brasil um defeito, como o cara botar uma camisa maneira e não saber quem é. Tocar bossa nova e não saber quem é Tom Jobim. Pra não propagar coisas, aproveitamos a quarentena pra estudar. Pegar o Michel Leme, Pegar o Carlos Vândalo e qualquer cancioneiro Brasileiro. Eu tô atrás da música brasileira, eu tô atrás do que a gente pode chamar de Metal Brasileiro. Não sei. Korsus, Sepultura, Dorsal Atlântica já faz isso a muito tempo, as minhas influências são músicos brasileiros que estão caminhando na terceira margem, esses que dizem “eu não preciso agradar ninguém”. As linhas do Michael Leme, Toninho Horta, seus acordes invertidos, “vou fazer Doom com isso” uma fase de criação eternamente brasileira com influencias fora do Metal. 



As pessoas tem uma visão romântica do que é Underground, acham que é um lugar sujo onde as bandas sem talento tocam, não, o Underground é uma indústria, é o cara que vende a camiseta, os flyers, até a Produtora, e o público é bacana. A gente tá vivendo uma transformação, o espelho politico também esta no Underground, nos fãs, e a gente vai desvencilhando e tem muito lugar pra tocar. Fizemos o Guerrafest numa Cabo Frio muito sitiada com bares que não tocavam bandas de Hard Core ou metal. O Daniel Coelho, ex-baixista da banda, falou vamos tocar ali na praça? E conseguimos fazer várias apresentações, adquirir experiência pra fazermos o Guerrafest. Trouxemos essa experiência pra esse espaço da minha casa, com ensaios abertos, depois fizemos um festival com bandas e o público participava muito, vinha dos guetos de Cabo Frio, depois o Sem Barreiras que arrecadava alimentos assim como o Rock Humanitário. 



Quando veio pandemia, eu já era um cara mais recluso, trabalho muito em casas, saindo pouco. A pandemia cortou uma mini turnê após o lançamento da música “Borda”, foi assustador, eu fiquei muito perdido, mas a Ludmila falou vamos usar o Instagram para tentar compensar isso. Fiquei frustrado, pois não conseguimos tocar, mas dei graças a Deus por estar em casa, tranquilo, já estar vivendo com música há um tempo, mas tem gente que tá passando muito perrengue. Nós unimos com amigos e fizemos sextas básicas e entregamos. Depois aproveitamos o momento e a dádiva de estar protegidos para estudar acorde, jazz, música instrumental, aproveitar para colocar a leitura em dia, pois quem lida com cultura tem a obrigação de sair melhor disso (Pandemia). 



As letras no estilo Doom é maneira, mas é mórbido, eu adoro as bandas, elas falam muito de morte, a religião é muito conceitual. Existem bandas que optam por outro caminho e eu fui por esse lado o caminho mais humanista. A música que vamos lançar agora fala desse lado mais hermético, uma filosofia muito antiga que deu base às religiões, eu sou um hermético. A música “Chumbo e ouro” fala exatamente disso, transformar tudo que é pesado, chumbo, ruim, danoso, no ouro. Sair da ignorância caminhando para sabedoria. Eu não descobri, eu percebi isso no “Dorsal” nos caras que lidam com arte, “a guitarra é ferro, madeira e amor”. Temas como Drácula já virou outra coisa... O caminho é acrescentar e longe de mim querer ser melhor ou alcançar o lugar alto no pódio. Tem muitos temas do Brasil, do Darci Ribeiro, do Livro “Povo Brasileiro” na letra de “Borda” “A gente vive na borda”. Diziam que os alquimistas pegavam qualquer coisa e transformava em ouro, mas quando você estudar as teorias do Filósofo Hermes Trismegisto e tudo que ele vem te trazendo, descobre que você é a transformação da sua mente, a ignorância do cara no pensamento mais humano. Na Musica nova eu digo: “Dos lábios aos ouvidos iniciados” era assim que era transmutado a doutrina, a mensagem dos herméticos. 



Tem nazismo no Metal? No mundo tem espaço pra tudo e é essa imensa bolha que não se renova. Eu nasci em 1981, e logo vi o governo de direita, Collor, FHC e nunca tivemos antes do Lula um governo que não fosse de direita. Essa coisa naquela época já eram assim, as pessoas me viam com disco do Slayer e diziam que eram satanistas, Nazistas, que o Jeef henneman era um cara Nazista, eu não conheço ele pessoalmente, mas a arte do cara não me passa isso. Existe sim, o mais brutal é afrodescendente Nazista, pessoas de classe popular de direita, isso a gente vai vendo, mas oque se pode fazer? Trabalhar o mais duro possível para que as pessoas pensem, coloquem na balança delas e optem por que a isso nem ao Metal compete. Eu entendo (criticas a religião) das bandas de Black Metal do começo da era (metal) que não tinham a cultura cristã e seus avós foram colonizados, destruídos pelos Cristãos. Aldeias destruídas e colocaram uma Igreja. Oque vou esperar? Ele vai jogar pra fora a raiva dele, tem que pensar a pessoa do outro lado, e quem gosta consome quem não gosta não consome. 



O Rock morreu? Não! Nunca, se você for no Michel Leme tem rock, enquanto tiver um menino querendo achar a voz dele, se pegar um disco não vai morrer. Isso é papo da indústria porque a gente vive uma onda mundial onde a rebeldia do rock não é bem vista. O cara que começa a escutar rock quer ler livro, se não tem alguma coisa errada. Quando eu ouvi “Justice for all - Metalica” eu li Mario Puzo “O poderoso chefão”. O Rock é um trampolim ele não morre, ele se transforma. Quando a gente fala que Metal é a resistência, eu começo a perceber também que o Metal esta sendo o transformador. 



Não adianta a banda vestir a camisa do Rock e não ser completo. Não adianta gravar um disco e não saber oque fazer daquilo “disse Marcelo Pompeu”. Ou seja, a modinha não dura e no Rock é pior ainda. A minha militância é: O Músico não pode ser burro. O cara que fala quero viver de música ele tem que entender que é outra linguagem, que ele vai ter que aprender coisas, que ele acha que não tem aprender. Principalmente se portar como ser Humano, depois disso vem um caminho de vida inteira que é a linguagem musical, ler, escrever, tirar música de ouvido, concertar o instrumento, conhecer o instrumento pra lidar com o Luthier, se conhece pra pedir alguma coisa ao produtor ou pra alguém. Minha militância é essa: “Quer fazer pela onda, vai fazer” tem gente que venceu assim? Duvido. Impossível o Dream Theater, o Rush tocar de alma. É preciso encarar a música como uma Medicina ou Advocacia. Tem que se instruir. O Brasil precisa disso de músicos inteligentes. De músicos que amem a música. Se não, o comércio? Mas não tem comercio com banda ruim. Não vai sair da garagem. 



Pra fazer oque gosta é preciso saber quem se é! A música esta em mim, assim como estou na música, se eu ficar em casa tocando eu já estou satisfeito, mas isso vai me dar dinheiro? Isso vai fazer com que meus filhos estudem e que eu tenha comida? Não. Então tenho que me profissionalizar. E vai depender de sua maneira de viver, abrir mão de muitas coisas, Entendi que não existia o Rock Star, aquilo era uma criação, uma mentira. Eu saio da minha cultura. dei aula, Fiz trilha de cinema, dingle, toquei em bar, na rua, sem preconceito. Tem artista que se for tocar na praça acha que vai mostrar pra sociedade que esta passando fome, mas tem que ter humildade. Pra transformar arte em trabalho, você tem que se sentir o menor de todos. Cortar metade das ilusões, quebrar um monte de estereótipos para virar uma profissão. 



A única certeza que tem nesse caminho é estudar, ao musico que tá começando estude. Se aperfeiçoe, se tá legal não é isso que o mercado precisa. É o perfeito, o maravilhoso, e não vai ser a cópia do Disco do Black Sabath? Vai ser quando você consegue ser sincero com você mesmo. Eu estou nessa busca, intensa, sem certezas, você pode fazer um disco de 40 mil dólares mas se o público não gostar você está ferrado. Tenta descobrir as frustrações, pois as vitórias são milhões de fracassos. “Amor pela música você não toca, não sente cheiro, não agarra e prende em lugar nenhum, ela passa por você”. 



Agradeço aos leitores e mando a mensagem que o amor a tudo vence, faça com amor seja lá oque for, não tenha vergonha de amar, ame que a solução vem, a coisa acontece. Eu estou lutando para isso, não sou o maior exemplo, tô na luta, tô na busca, ao máximo, perdoe e ame. O resto acontece. 



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3 comentários:

Unknown disse...

👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏

C.Guerra disse...

Muito obrigado pela oportunidade.
Avante.

C.Guerra disse...

Muito obrigado.